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Quarenta mulheres entraram em contato, em um período de sete horas desta segunda-feira (10), com o Ministério Público de Goiás (MP-GO) se identificando como vítimas de abusos sexuais cometidos pelo médium João de Deus. Segundo os promotores, 35 dos relatos foram feitos pelo e-mail criado exclusivamente para as denúncias: denuncias@mpgo.mp.br.
O advogado Alberto Toron, que defende o médium, afirmou que o cliente nega as acusações e que ele está à disposição da Justiça para esclarecimentos (veja íntegra do posicionamento da defesa no fim da reportagem).
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Os depoimentos das vítimas devem ocorrer até o fim desta semana. O MP-GO iniciou, nesta segunda-feira (10), uma força-tarefa para a investigação dos casos. Inicialmente, quatro promotores de Justiça integravam a operação, mas no fim da manhã, o número passou para cinco, além de duas psicólogas.
“É preciso que [as possíveis vítimas] enviem os contatos para que entremos em contato posteriormente. Só os promotores da força-tarefa vão receber o e-mail”, afirma a coordenadora do Centro de Apoio Operacional dos Direitos Humanos, Patrícia Otoni.
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O jornal “O Globo”, a TV Globo e o G1 têm publicado nos últimos dias relatos de dezenas de mulheres que se sentiram abusadas sexualmente pelo médium. Não se trata de questionar os métodos de cura de João de Deus ou a fé de milhares de pessoas que o procuram.
A promotora de Justiça Gabriela Manssur, de São Paulo, conta que, depois que as denúncias foram exibidas no Conversa com Bial, já foi procurada por mais de 200 mulheres que também fazem relatos semelhantes.
Conforme relatos colhidos até esta segunda-feira, os abusos sexuais teriam ocorrido desde a década de 80 até outubro do ano passado, dentro Casa Dom Inácio de Loyola, onde João de Deus atende em Abadiânia, cidade goiana no Entorno do Distrito Federal.
Depoimentos agendados
Os promotores informaram também que há depoimentos agendados para terça-feira (11) em São Paulo e Minas Gerais. Apesar da possibilidade de os depoimentos serem colhidos em outras cidades, a investigação ficará a cargo da promotoria de Justiça de Abadiânia, onde João de Deus realiza os atendimentos.
Os promotores ressaltam que os depoimentos serão mantidos em sigilo e que, se necessário, será pedida a proteção da vítima.
“É preciso que elas saibam que elas são as vítimas, não são culpadas”, ressaltou o coordenador do CAO Criminal, Luciano Miranda Meireles.
“Por cautela, nós devemos agir com o intuito de conseguir algo plausível. Estamos aguardando o relato completo das vítimas para agir de forma célere, mas não atropelada. Queremos a maior celeridade possível para acolhermos e darmos respaldo às vítimas”, completou o promotor.
O MP-GO informou que já existiam denúncias contra João de Deus desde 2010. Em 2012, ele chegou a ser julgado por abuso sexual, mas foi inocentado por falta de provas. Meireles informou ainda que “há notícias de crimes de outra natureza”, mas ainda não irá informar quais são enquanto não tiver algo concreto.
Os funcionários da Casa Dom Inácio de Loyola também podem ser investigados. “A gente tem que analisar se houve crime por parte dos funcionários, se algum tiver auxiliado de alguma forma, ele pode ser denunciado pelos mesmos crimes”, disse.
Além do MP-GO, a Polícia Civil goiana também instaurou investigações, com o objetivo de identificar outras mulheres que afirmam ser vítimas do médium. “O que é preciso é que, além das denúncias que foram feitas, dos boletins de ocorrência, que a vítima também colabore durante os depoimentos, seja em outro estado, seja vindo a Goiás”, afirmou a delegada Marcela Orçai, assessora de imprensa da corporação.
João de Deus nega acusações
O advogado Alberto Toron, que defende o médium, afirmou que o cliente nega as acusações e que ele está à disposição da Justiça para esclarecimentos.
“Muito enfaticamente ele nega. Ele recebe com indignação a existência dessas declarações, mas o que eu quero esclarecer, que me parece importante, é que ele tem um trabalho de mais de 40 anos naquela comunidade, atendendo a todos os brasileiros, gente de fora do país, sem nunca receber esse tipo de acusação”, disse.
Além disso, o advogado esclareceu que o padrão de João de Deus era atender a todos em grupo. “Eventualmente atendeu alguma pessoa, alguma autoridade sozinho, isso é um episódio localizado. Mas pessoas, mulheres, crianças em geral, eram atendidas coletivamente diante de um grande número de pessoas”, continuou.
Por fim, disse que o cliente vai colaborar com as investigações. “Amanhã mesmo [segunda-feira, 10] nós vamos nos dirigir às autoridades judiciárias da cidade de Abadiânia para dizer que ele está à disposição da polícia, do juiz, do Ministério Público para ser ouvido em qualquer momento”, disse.
“Achamos que tudo isso deve ser objeto de uma investigação marcada pela seriedade e nós esperamos que isso aconteça para que a verdade venha à tona”, concluiu Toron.
Fonte: G1