18 de outubro, 2024

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‘Ela só tem R$ 400 na conta’: tio de bebê sequestrado nega venda de criança e diz que mãe estava em UTI com depressão

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A família de Nícolas Areias Gaspar, de 2 anos, respira aliviada agora que o pequeno foi encontrado e resgatado após uma operação integrada entre as polícias Civil e Militar de Santa Catarina e São Paulo. O GLOBO conversou, na terça-feira (09-05), com o comediante e influenciador digital Juliano Gaspar, tio do garoto, que usou seus mais de 140 mil seguidores no Instagram para divulgar o sumiço do sobrinho e pedir ajuda para encontrá-lo. Ele conta que sua irmã, de 22 anos, com muitas dificuldades financeiras, sofria de depressão pós-parto desde que teve o filho, e que os dois suspeitos de tráfico humano que levaram o menino, no último dia 30 de abril, adquiriram sua confiança num grupo de apoio para mães solteiras. Um trabalho de cooptação que teria durado dois anos até o desfecho que se apresentou nos últimos 9 dias.

A mulher, de 22 anos, foi convencida de que não teria dinheiro para manter o filho. O pai nunca registrou a criança. Num ato de desespero, segundo a família, entregou Nícolas a Marcelo Valverde e Roberta Porfírio, que estão presos, e ingeriu remédios, quase tirando a própria vida em seguida.

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— Ela conheceu o casal num grupo de apoio a mães solteiras de primeira viagem. Ganharam a confiança dela, ainda na época em que ela ficou gravida, quando começou a pesquisar sobre maternidade. Esse pessoal ganhou a confiança dela e começou a aliciá-la. Ela falou que tinha dificuldades financeiras e eles diziam que a criança poderia ir para um lugar melhor — conta o irmão. — Chegou ao ponto que numa situação de depressão pós-parto, em que ela estava sofrendo muito, acabou entregando o bebê para eles. Ela ingeriu uma medicação e foi encontrada desacordada em casa. Ficou na UTI internada por três dias. Durante esse tempo, até ela acordar e esclarecer o que aconteceu, nós ficamos sem noticias do bebê. Foi quando acionamos a polícia e fomos atrás de todas as pistas.

A Polícia Civil já sabe que os dois presos não possuíam nenhum vínculo amoroso e que entregariam a criança a um outro casal de receptadores, que também já foram identificados. Com a grande repercussão do caso, alavancada também por Juliano e seus milhares de seguidores, eles acabaram abortando a missão e pretendiam deixar o garoto num fórum em São Paulo, quando acabaram surpreendidos pelos policiais, que seguiam as pistas do carro onde eles estavam desde Santa Catarina, graças à tecnologia de identificação de placas da Polícia Rodoviária Federal. Além da participação de uma quadrilha de tráfico de pessoas no crime, os investigadores apuram, também, se a mãe teria recebido algum dinheiro para entregar o filho. O irmão rejeita essa possibilidade.

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— Não existe nenhuma suspeita da nossa parte de que ela tenha negociado, até porque não faria sentido ela negociar (a criança) e ingerir uma medicação logo na sequência. Eles (a polícia) até vão abrir os dados bancários dela para confirmar isso, mas ela só tem cerca de R$ 400 na conta — revela o humorista. — Estava desempregada no momento e essa suspeita é sem cabimento. Ela estava num momento de fragilidade e de muita instabilidade emocional. Por isso, acabou cometendo esse ato de entregar o bebê, com a confiança que essas pessoas ganharam dela.

Ele comenta também sobre a expectativa da família de ter o menino de volta. Há a possibilidade de que a decisão saia ainda nesta quarta-feira. Um mandado de busca e apreensão expedido pela Justiça catarinense prevê que ele fique sob a guarda da avó materna por enquanto. O governo de SC disse que irá disponibilizar um avião para trazê-lo assim que a vara de Taubaté, em São Paulo, onde a criança foi recuperada, autorizar seu retorno. Por enquanto, ele segue em abrigo sob os cuidados do Conselho Tutelar.

— A expectativa é de que ele volte o mais rápido possível, nós achamos que ele voltaria hoje (nesta terça-feira), mas precisava de uma liberação de São Paulo, porque mudou a jurisdição. Inclusive, alguns oficiais de SC estão indo para tentar acelerar esse processo e obter mais informações sobre esse casal que aliciou a minha irmã para que ela naquele momento de fragilidade entregasse o bebê — conclui.

A mulher já recebeu alta médica e está sob os cuidados da família.

‘Virada’ na investigação

A polícia a princípio acreditava na hipótese de sequestro. O cenário mudou, no entanto, quando o celular da mãe da criança foi periciado, enquanto ela ainda estava internada. As mensagens levantaram a suspeita de que ela tenha sido abordada por uma quadrilha especializada em tráfico humano. Restou comprovado que as abordagens começaram há 2 anos e se estenderam até o desfecho dos últimos 9 dias. Os suspeitos só entregaram a criança porque ficaram com medo da repercussão do caso, segundo os investigadores.

— A mãe disse que os conheceu por intermédio de um grupo de ajuda, numa rede social. Diante de sua vulnerabilidade, ela teria sido cooptada ou induzida a fazer essa entrega (do filho) — contou o delegado-geral de Santa Catarina, Ulisses Gabriel, durante coletiva de imprensa no fim da tarde desta terça-feira. — Esses dois indivíduos presos em flagrante não são um casal. Um deles seria o aliciador. Eles veem a repercussão do caso, ficam com medo, fazem contato com o Fórum de Tatuapé e, a partir da interlocução com juiz e promotores de SP, é pedido que eles apresentem a criança lá. No caminho ocorre a abordagem da polícia e eles são presos. Depois, foram conduzidos até o Fórum e o juiz determinou que fossem levados à delegacia, e que a criança fosse levada a um abrigo.

A delegada Sandra Mara Pereira, de Delegacia de Proteção à Criança e Adolescente de SC, acrescenta que só após a quebra de sigilo bancário dos envolvidos será possível dizer se a mãe recebeu vantagem financeira para entregar o pequeno Nícolas.

— A mãe possui uma fragilidade muito grande financeira e psicológica. Foi convencida por conta dessa fragilidade. Ela é muito jovem, ficou grávida aos 19 anos. Não tem emprego, possui apenas alguns cursos, e essa fragilidade dificulta sua inserção no mercado de trabalho — contou Sandra. — A criança está registrada no nome da mãe, mas nos foi apontado o nome de um possível pai também. E todas as pessoas indicadas na investigação estão sendo submetidas a mandados de busca e apreensão. A mãe nega ter recebido vantagem, mas só teremos certeza com a quebra de sigilo bancário de todos os envolvidos.

A investigadora revelou ainda que o processo de convencimento para a entrega da criança começou há 2 anos — ou seja, desde o nascimento da criança.

— Primeiro, o caso foi reportado como desaparecimento. Depois, com as investigações e desbloqueio do celular (da mãe), nós vimos que houve um assédio à vítima para que ela entregasse a criança, algo que se estendeu ao longo de 2 anos — disse. — Mas só conseguiremos tipificar (os crimes cometidos) a partir da concessão de algumas cautelares. Precisamos verificar se ela foi ameaçada, se recebeu algum dinheiro, se houve entre eles alguma troca. Somente então, cumpridas todas as formalidades, poderemos representar por algo.

Fonte: O Globo

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