28 de dezembro, 2024

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‘É revoltante uma coisa tão perigosa ser vendida sem alerta’, diz prima de mulher que morreu após tomar emagrecedor; Anvisa diz que chá está proibido

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Um produto que se diz “natural”, promete “emagrecimento sem dietas” e é vendido pela internet sem a necessidade de receita pode ter sido o responsável pela morte de Mara Abreu, de 42 anos. A enfermeira morreu nesta quinta-feira (3) após complicações de um transplante de fígado no Hospital das Clínicas, em São Paulo. Um frasco com 60 cápsulas do composto “50 Ervas Emagrecedor”, da marca Pro-Ervas, foi encontrado entre os pertences dela.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) afirmou nesta sexta-feira (4) que produtos com a marca “50 Ervas Emagrecedor” estão proibidos no país desde 2020, por não estarem regularizados como medicamentos. “O motivo das proibições foi a comprovada divulgação e comercialização dos produtos sem registro, notificação ou cadastro na Anvisa, fabricados por empresa que não possui Autorização de Funcionamento na Agência para fabricação de medicamentos”, informou a agência.

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Enfermeira Mara Abreu, à esquerda, ao lado da prima Márcia Cristina Oliveira (Foto: Arquivo pessoal)

Em entrevista, Márcia Cristina Oliveira, prima de Mara, disse que é revoltante “uma coisa tão perigosa ser vendida sem alerta”.

“Nós ficamos revoltados que seja uma coisa de tão fácil acesso e não tem informação do perigo. Acho que pra isso ser vendido precisa ser falado que tem diversos riscos, porque é uma revolta muito grande um produto ter tanto acesso sem nenhum alerta”, disse Márcia.

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Especialistas ouvidos alertaram para os riscos de suplementos naturais com promessas milagrosas. Nas redes sociais, a médica Liliana Ducatti Lopes, que acompanhou o caso de Mara no Hospital das Clínicas, disse que a paciente teve hepatite fulminante após tomar um chá emagrecedor com uma mistura de ervas como chá verde, carqueja e mata verde.

Mara Abreu recebeu um transplante de fígado no último domingo (30), mas não resistiu e morreu na madrugada desta quinta. Durante a internação, médicos começaram a investigar qual poderia ser o remédio por trás do quadro de hepatite que levou à necessidade de transplante. À pedido da equipe médica, familiares procuraram remédios em seus pertences e encontraram o chá em cápsulas.

“Aí a gente começou a fuçar as coisas dela, e encontramos na gaveta dela esse chá em cápsulas, e levamos para eles. Foi quando eles constataram, pela composição daquelas cápsulas, que tudo ali era prejudicial ao fígado”, disse Márcia.

Também prima de Mara, a arquiteta Kátia de Abreu Saraiva Magalhães disse que espera que a morte de Mara sirva de alerta para o consumo de chás emagrecedores.

“Nós da família ficamos muito gratos em haver esse alerta para que não aconteça em outras famílias o sofrimento que está havendo na minha”, disse Kátia.

Frasco do chá em cápsula encontrado pelos familiares de Mara Abreu — Foto: Arquivo pessoal
Frasco do chá em cápsula encontrado pelos familiares de Mara Abreu (Foto: Arquivo pessoal)

Técnica em enfermagem, Márcia Cristina de Oliveira disse que a prima não fazia uso de outros medicamentos e tinha hábitos saudáveis.

“Ela adorava academia, ia todo dia. Era super saudável, não era sedentária e não tomava outros remédios. Ela não precisava de nada disso. Sabe aquela pessoa que você menos imagina que possa ficar doente? Ela nunca ficava de cama, não pegava nem gripe”, disse Márcia.

Os familiares de Mara não sabiam que ela fazia uso do chá em cápsulas. Por conta de informações do frasco encontrado, eles acreditam que o consumo do produto ocorria há menos de quatro meses. Isto porque o rótulo tinha data de fabricação de outubro de 2021.

“Olhando assim parece que é uma coisa tão natural. Quantas pessoas não podem estar fazendo uso de algo assim pra emagrecer ou para ter uma estética que é considerada ideal, e na verdade estão consumindo algo que pode ser um veneno?”, questionou Márcia.

Frasco encontrado entre os pertences da vítima mostra composição do chá em cápsula — Foto: Arquivo pessoal
Frasco encontrado entre os pertences da vítima mostra composição do chá em cápsula (Foto: Arquivo pessoal)

Complicações de transplante

Márcia contou que o agravamento das condições de saúde da prima aconteceu muito rápida. Seus sintomas começaram a surgir enquanto ela estava de plantão no Hospital Santa Joana, onde trabalha, no último dia 18.

Após passar mal, ela foi internada na própria unidade e diagnosticada com hepatite. No dia 20, ela foi transferida para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Santa Joana.

Com a piora, os médicos solicitaram sua transferência para um hospital com condições de realizar um transplante de fígado. No dia 21 ela foi levado para o Hospital das Clínicas de São Paulo e passou a figurar na fila de espera do transplante.

“Nós nos mobilizamos muito para pedir doações, porque ela precisava de um fígado de um doador morto. Em alguns casos, nós familiares podemos doar, mas por conta de precisar do fígado inteiro, tinha que ser a doação de alguém que já morreu”, contou Márcia.

Um possível doador foi encontrado no domingo (23), mas a família negou a doação. O transplante só ocorreu quando um segundo doador foi localizado, no último domingo (30). A família lamentou a demora pelo transplante.

“São poucas pessoas que se habilitam a doar órgãos e, pior ainda, poucas que registram esse desejo oficialmente. A gente acredita que se a Mara tivesse conseguido a doação de fígado mais cedo, talvez ela teria conseguido sobreviver”, disse a prima.

A cirurgia ocorreu na madrugada do domingo (30). Poucas horas depois, Mara começou a apresentar sinais de rejeição do órgão transplantado.

Após a confirmação da rejeição, os familiares voltaram às redes sociais para tentar mobilizar uma nova doação. No entanto, na quarta (2), a enfermeira teve diagnóstico de morte encefálica. Sua morte foi confirmada na quint

Médica faz alerta

No vídeo publicado no Instagram, Liliana afirmou que na literatura médica há casos semelhantes ao da paciente, que não tinha nenhum problema de saúde prévio, desenvolveu uma falência aguda do fígado gravíssima e precisava “transplantar urgente”;

“São casos dramáticos”, afirma a médica.

De acordo com Liliana, sempre que recebe esses pacientes, a primeira coisa que faz é investigar a causa.

“Na grande maioria das vezes [a causa] é medicamentosa. Alguns medicamentos, como anabolizantes e outras medicações usadas, por exemplo Roacutan. Mas, normalmente, se faz uso desses medicamentos com acompanhamento médico e exame de sangue para ver como está a saúde do fígado.”

Liliana Ducatti Lopes é médica cirurgiã do aparelho digestivo e faz transplantes de fígado e outros órgãos — Foto: Reprodução/Instagram
Liliana Ducatti Lopes é médica cirurgiã do aparelho digestivo e faz transplantes de fígado e outros órgãos (Foto: Reprodução/Instagram)

No caso da paciente internada no HC, no entanto, de início não era conhecida nenhuma medicação tomada por ela. Logo depois, porém, a família levou ao consultório um frasco de chá emagrecedor com 50 ervas, de acordo com a médica.

“Quando olhamos o rótulo dessa medicação já podemos identificar diversas ervas conhecidas por serem hepatotóxicas, por fazerem mal ao fígado. Dentre elas, a mais comum e mais conhecida é o chá verde. É muito bem descrito na literatura, há vários relatos e papers que mostram casos de hepatite fulminante causada por uso de chá verde.”

De acordo com a médica, além do chá verde, carqueja e mata verde também são ervas conhecidas na literatura médica por serem prejudiciais ao fígado.

“Nós recomendamos não fazer o uso desse tipo de medicação: chá que desincha, chá detox, natural, erva… Não faça uso, desaconselhe as pessoas que você conhece. Isso tudo é charlatanismo e são descritos como hepatotóxicos, fazem mal para o fígado sim e podem levar à necessidade de um transplante de fígado.”

Fonte: G1

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