30 de outubro, 2024

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Desaparecimento de abutres está relacionado com aumento de mortes de humanos, aponta pesquisa

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Abutres – parentes dos urubus, que são mais conhecidos no Brasil -, de modo geral, não são considerados nos esforços de proteção e conservação. Mas a espécie desempenha um papel-chave na natureza e é fundamental para o equilíbrio de sistemas que afetam os seres humanos, como aponta um estudo que será publicado em breve na American Economic Review. O trabalho demonstrou que o repentino quase desaparecimento dos abutres na Índia, há cerca de duas décadas, levou a mais de meio milhão de mortes de pessoas ao longo de cinco anos.

Abutre-de-bico-comprido no Parque Nacional da Reserva de Tigres de Ranthambore, Rajastão, Índia. (Foto: Um Só Planeta)

O que acontece é que, sem este animal no meio ambiente, muitas doenças são mais disseminadas. Isso, porque os abutres se alimentam de carcaças de outros bichos em decomposição, mas, quando desaparecem, essas carcaças ficam expostas na natureza e acabam poluindo cursos d’água e espalhando bactérias e, consequentemente, infecções — além de virarem comida de cães selvagens que são transmissores de raiva, doença perigosa para os humanos.

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Em entrevista ao The New York Times, Anant Sudarshan, um dos autores da pesquisa e professor de economia na Universidade de Warwick, na Inglaterra, disse que isso causa “um choque sanitário negativo realmente enorme”.

Grupo de abutres se alimentando de uma carcaça (Foto: Um Só Planeta)

Mas o que estava matando os abutres?

Durante anos, não se sabia o que estava causando a morte dos abutres. Foi só em 2004 que cientistas descobriram que um medicamento anti-inflamatório usado no tratamento do gado, o diclofenaco, era altamente tóxico para eles. A partir de então, conservacionistas pressionaram para que a droga fosse proibida para uso veterinário, o que aconteceu dois anos depois.

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Na Índia, essa situação diminuiu em 95% a população da ave – em termos de ecossistema, elas haviam se tornado funcionalmente extintas no local. Para avaliar as consequências disso sobre os humanos, Sudarshan e Eyal Frank, economistas da Universidade de Chicago, dos Estados Unidos, compararam as taxas de mortalidade humana em distritos indianos que antes prosperavam com abutres com aqueles com populações historicamente baixas do animal.

Eles descobriram que, depois que as vendas de medicamentos anti-inflamatórios aumentaram e as populações de abutres diminuíram, as taxas de mortalidade humana aumentaram em mais de 4% nas localidades onde as aves antes prosperavam.

Para testar o que estavam vendo, os economistas examinaram outras evidências: mudanças na qualidade da água, vendas de vacinas contra a raiva e contagens de cães selvagens.

Atualmente, segundo Chris Bowden, que ajuda a coordenar o SAVE, um consórcio de grupos que trabalham para salvar os abutres do sul da Ásia da extinção, os animais na Índia possuem uma população que equivale a menos de 1% de suas populações anteriores e parecem ter se estabilizado nesse nível. Por lá, quatro espécies estão criticamente ameaçadas. E, mesmo com proibição do diclofenaco no gado, ele continua a ser usado ilegalmente – sem contar que outros medicamentos anti-inflamatórios foram aprovados, e são igualmente tóxicos.

No Paquistão e no Nepal, os pássaros também foram devastados pelo diclofenaco. Mas Bowden acrescentou que, no Nepal, onde a proibição do uso veterinário da substância foi mais eficaz, as populações de abutres aumentaram significativamente nos últimos sete anos.

Fonte: Um Só Planeta

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