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O governo venezuelano aprovou um novo aumento no salário mínimo, que agora será de 300 mil bolívares soberanos, cerca de 18 dólares ou R$ 75, de acordo com a taxa de câmbio no mercado paralelo, a mais utilizada.
O anúncio foi feito no Twitter pelo deputado da Assembleia Nacional Constituinte e ex-ministro do Trabalho Francisco Torrealba.
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Torrealba explicou que os 300 mil bolívares serão divididos em 150 mil do salário mais outros 150 mil da chamada “cesta ticket socialista”, um bônus para comprar alimentos que é entregue aos trabalhadores.
O anúncio logo despertou críticas.
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O líder da oposição Juan Guaidó descreveu a medida como “insuficiente” e disse que “é um salário mínimo que ninguém ganha na Venezuela”.
E não faltou quem fizesse piadas nas redes sociais.
A Venezuela sofre há anos com a hiperinflação, um forte aumento nos preços que corroeu fortemente o poder de compra da população.
O custo das proteínas
A BBC News Mundo visitou um supermercado em Caracas nesta terça-feira (15/10) para ver o que pode ser comprado pelo valor do novo salário mínimo.
Um litro de leite, para mencionar um item amplamente consumido pelas famílias, custava no estabelecimento, localizado em uma área de classe média da cidade, 38 mil bolívares.
Um quilo de arroz custava 21 mil bolívares, enquanto o de sal era 18 mil.
Comprar proteínas atinge um novo patamar.
O quilo do frango picado custava 50 mil bolívares, enquanto a dúzia de ovos, 35 mil. Desta forma, se uma pessoa comprar dez pacotes com 12 ovos cada, o salário mensal acaba.
Se alguém quer se dar ao luxo de comprar queijo, as coisas ficam ainda mais complicadas.
O único que estava à venda no mercado custava 290 mil bolívares por quilo. Ou seja, um quilo desse queijo consumiria quase toda a renda de um trabalhador que recebe salário mínimo.
Embora seja verdade que muitos funcionários venezuelanos recebam quantias mais altas ou outras remunerações por seus serviços, o salário mínimo segue sendo o que, em muitos casos, trabalhadores do setor privado e funcionários públicos recebem em troca de sua mão-de-obra.
A Venezuela vive há anos uma grave crise, que se reflete na severa contração de sua economia. Segundo o Banco Central da Venezuela (BCV), o país perdeu mais da metade de seu PIB desde que Nicolás Maduro chegou ao poder em 2013.
Muitos especialistas, assim como a oposição e seus aliados internacionais liderados pelos Estados Unidos, culpam a má administração econômica do governo pela crise.
Já a Venezuela, embora admita erros, diz que o país sofre uma “guerra econômica” liderada pelos Estados Unidos em retaliação a seu compromisso com o socialismo e qualifica de “bloqueio” as sanções impostas pelo governo de Donald Trump.
‘Repetitivo e inútil’
Uma das consequências dos desequilíbrios da economia é a hiperinflação, que em 2018 subiu para 130.060%, de acordo com os dados do BCV.
Para lidar com o aumento descontrolado dos preços, tornou-se comum o governo aumentar o salário mínimo, apesar de muitos especialistas alertarem que essa medida só faz engordar a espiral inflacionária.
Para Luis Vicente León, presidente da consultoria Datanálisis, se a medida não for acompanhada de outras mudanças fundamentais na economia, o aumento se torna um “exercício repetitivo e inútil”.
No atual contexto de hiperinflação, o bolívar se torna cada vez mais escasso. As transações em dólares americanos estão se tornando cada vez mais frequentes na Venezuela, embora o governo não tenha regulamentado seu uso.
O acesso à moeda tornou-se uma dificuldade adicional para os venezuelanos mais desfavorecidos.
Segundo dados das Nações Unidas, mais de 4 milhões de venezuelanos deixaram o país, no que é considerado “o maior êxodo da história recente da América Latina e do Caribe”, o que dá uma ideia da magnitude da crise no país da América do Sul.
Fonte: BBC