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Estatal enfrenta crise financeira, tenta levantar R$ 10 bilhões em empréstimos e registra queda no índice de pontualidade das encomendas.
Imersos em uma das maiores crises de sua história, os Correios trabalham contra o relógio para conseguir ao menos R$ 10 bilhões em um prazo de 15 dias. O valor é considerado essencial para equilibrar o caixa, honrar pagamentos atrasados e recuperar a capacidade operacional — diretamente afetada nas últimas semanas, com reflexos nas entregas, que vêm sofrendo atrasos acima do esperado.
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A direção da estatal busca o empréstimo no mercado financeiro com garantia da União até o fim de novembro. A captação, no entanto, esbarra na resistência dos bancos, que vêm cobrando juros acima do limite considerado aceitável pelo Tesouro Nacional. Na primeira rodada, instituições como BTG Pactual, Citibank, Banco do Brasil e ABC Brasil chegaram a pedir até 136% do CDI, índice considerado incompatível para uma operação com risco praticamente zero às instituições — já que, em caso de inadimplência, o Tesouro cobre o débito.
Para tentar reduzir o custo, os Correios ajustaram a estratégia. A meta inicial de R$ 20 bilhões foi reduzida pela metade, e uma nova rodada de negociações foi aberta com cerca de dez bancos, incluindo instituições de menor porte. A estatal tenta fechar o acordo dentro do limite de 120% do CDI, parâmetro tido como referência em operações garantidas pela União.
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Demissões e impacto direto nas entregas
O empréstimo é apontado como peça central para colocar em prática o plano de reestruturação da empresa, cujo foco imediato é a redução de despesas com pessoal. A direção quer lançar um novo Programa de Demissão Voluntária (PDV) para alcançar 10 mil desligamentos — número considerado o mínimo necessário para reduzir a folha salarial em R$ 2 bilhões por ano.
Mas, para isso, será necessário oferecer condições mais atrativas aos funcionários. No último PDV, apenas 3,6 mil dos 8 mil elegíveis aderiram.
Enquanto negocia o financiamento e tenta conter gastos, os efeitos da crise já são visíveis no dia a dia da operação. O atraso nas entregas se tornou mais frequente, e parte dos fornecedores segue sem receber. Hoje, o índice de encomendas entregues no prazo está em 92%, abaixo da meta mínima de 95% estipulada internamente e distante do patamar ideal para competir com as grandes plataformas de comércio eletrônico.
A situação já foi pior: no primeiro semestre, o índice caiu para 76%, o mais baixo em anos. Mesmo com a melhora recente, a avaliação é que a recuperação agora depende exclusivamente do reequilíbrio financeiro.
Prejuízo crescente e risco de retenção de recursos
O caixa da empresa vive uma deterioração acelerada. O prejuízo acumulado em 2025 chegou a R$ 4,3 bilhões, sendo R$ 2,6 bilhões apenas no segundo trimestre — quase cinco vezes mais do que o registrado no mesmo período de 2024. Mensalmente, o déficit vem girando em torno de R$ 750 milhões.
A busca pelo novo empréstimo também é impactada por problemas em contratos anteriores. Um acordo firmado com BTG Pactual, Citibank e ABC Brasil, no valor de R$ 1,8 bilhão, teve cláusulas descumpridas relativas ao estoque de precatórios, fazendo os juros saltarem. A taxa, antes de CDI + 3%, chegou a CDI + 5% após renegociação. Um aditivo de R$ 40,5 milhões foi firmado para regularizar a situação, com pagamentos previstos para 28 de novembro e 28 de dezembro. Os bancos, contudo, podem reter os valores a partir deste sábado (15).
700 agências podem fechar, e estatal aciona TCU
Os Correios também apresentaram ao Tribunal de Contas da União (TCU) as diretrizes do plano de reestruturação, que prevê medidas como o fechamento de até 700 agências no país e o uso de um fundo imobiliário para gerar receita. O objetivo é garantir acompanhamento da corte e evitar questionamentos futuros.
Para reconstruir a confiança do mercado e dos clientes, a estatal considera crucial estabilizar o fluxo de caixa, pagar fornecedores atrasados e recuperar o nível de eficiência das entregas — hoje, fator decisivo para manter contratos com o e-commerce.
Sem o aval e sem o dinheiro, entretanto, o risco é de aprofundamento da crise, com novos atrasos, perda de grandes clientes e mais pressão sobre a operação.