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Nuvens ameaçadoras e relâmpagos com flashes azulados surgiram sobre o Grande Colisor de Hádrons esta semana, e não demorou para que os teóricos da conspiração enxergassem rostos no céu.
Será que a CERN (Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear) abriu os portões para uma dimensão terrível e infernal? Será que Satã estava chegando?
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Como era de se esperar, a resposta é não: era apenas uma nuvem sobre o túnel de 27 quilômetros de circunferência próximo a Genebra, na Suíça, fotografada para que parecesse o mais aterrorizante possível.
Desde que o colisor – o mais poderoso já construído – começou a funcionar as pessoas estão morrendo de medo dele, alegando que buracos negros irão engolir a Terra, e que os cientistas mantêm uma estátua do deus indiano da destruição dentro do local.
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Fãs religiosos de teorias da conspiração do Freedom Fighter News disseram esta semana: “Eles começaram a liberar uma quantidade absurda de energia com o experimento AWAKE. Eles continuam brincando com a natureza e negando isso… e aqui estão mais provas. O que estava nas nuvens?”
Mas por que as pessoas têm tanto medo do colisor? E por que os cientistas têm uma estátua de um deus da destruição no local?
Por que as pessoas temem a CERN e o Grande Colisor de Hádrons?
Muitas pessoas tentam associar o Grande Colisor a profecias antigas e divindades assustadoras.
Clyde Lewis escreveu no site Ground Zero: “É apenas uma coincidência que CERN seja uma abreviação para o Deus Cernunnos? É também uma coincidência que a CERN tenha que ir às profundezas da Terra para fazer seus experimentos “divinos”? Cernunnos era o deus do submundo.“
Nigel Watson, autor do ‘Manual de Investigação sobre OVNIs’, diz que o fenômeno é semelhante à crença em espaçonaves alienígenas – e provavelmente é derivado de um medo da tecnologia.
Watson diz: “A CERN está ligada a todos os tipos de medos conspiratórios e apocalípticos.
“Assim como outros supostos horrores da ciência e da tecnologia, sempre há uma crença de que eles irão causar a nossa destruição final e a salvação só irá existir para alguns poucos escolhidos. No momento, o projeto da CERN superou as guerras atômicas e a poluição e se tornou o foco destes medos.”
Quem alimenta os rumores?
Parece que teóricos da conspiração cristãos ainda não perdoaram a máquina infernal por ter encontrado a “partícula de Deus” – muitas das afirmações sobre o CERN abrindo “entradas cósmicas” vêm de pessoas religiosas.
Em setembro de 2015 os teóricos da conspiração previram que o Grande Colisor de Hádrons estaria envolvido com o fim do mundo – ao convocar um asteroide ou o próprio Anticristo.
O canal do YouTube Section 51 disse na época: “As pessoas se tornaram mais conscientes das ambições agressivas do projeto da CERN de explorar o desconhecido ‘universo sombrio’. Muitos ressaltaram sinais que deixaram as pessoas preocupadas, e até aterrorizadas, como o simbolismo usado nas próprias dependências da CERN.
“Um símbolo de Shiva (Deus Hindu da Destruição) dançando a dança cósmica da morte e da destruição pode ser claramente visto na sede da CERN. Seria esta uma declaração simbólica da intenção final da CERN de trazer uma nova era de destruição ao planeta?”
Uma parte das teorias da conspiração realmente é verdadeira: há uma estátua de Shiva na CERN, descrito online como o “Deus da Destruição”.
No entanto, a estátua – um presente do governo indiano – é uma das muitas presentes nas dependências da CERN, e não tem como objetivo evocar a destruição.
A CERN explica: “Na religião hindu esta forma do deus dançante Shiva é conhecida como Nataraj e simboliza Shakti, ou a força da vida. Conforme uma placa ao lado da estátua explica, a crença é de que Lord Shiva tenha dançado para criar o universo, motive a sua existência, e eventualmente irá extingui-lo. Carl Sagan desenhou a metáfora entre a dança cósmica de Nataraj e o estudo moderno da ‘dança cósmica’ das partículas subatômicas.”
Buracos negros
Os teóricos da conspiração temiam que quando o Grande Colisor de Hádrons fosse ativado ele iria produzir um enorme buraco negro, sugando-nos para dentro dele.
Obviamente isso não aconteceu – e o colisor também não produziu os buracos negros microscópicos que muitos esperavam, de acordo com pesquisadores da Universidade do Alabama, nos Estados Unidos.
No entanto, ele ainda pode produzir minúsculos buracos negros – que ofereceriam aos cientistas uma nova maneira de investigar a gravidade e provar a existência de outras dimensões.
Shaqoi Hou e Benjamin Harms, da Universidade do Alabama, e Marco Cavaglia, da Universidade do Mississipi, acreditam que até o momento o colisor não tenha criado buracos negros.
Os pesquisadores acreditam que excluíram a chance de formação de buracos negros com 95% de certeza, através da comparação entre simulações de formações de buracos negros e dados reais dos experimentos realizados pelo Grande Colisor de Hádrons. No entanto, eles ressaltam que ainda é possível que o colisor produza buracos negros microscópicos.
Universos paralelos
Há uma chance real de que a CERN descubra um universo paralelo – fato que os teóricos da conspiração usaram como evidência de que os cientistas estão tramando algo perverso.
No entanto, a realidade dos universos paralelos é um pouco diferente daquela que vemos em filmes de ficção científica – e não há nenhuma chance de acordarmos e descobrirmos que Hitler venceu a guerra.
“Assim como muitas folhas de papel paralelas, que são objetos bidimensionais (largura e comprimento), podem existir em uma terceira dimensão (altura), universos paralelos também podem existir em dimensões mais altas,” explica Mir Faizal, funcionário da CERN da Universidade de Waterloo, no Canadá.
“Nós acreditamos que a gravidade possa vazar para outras dimensões, e se fizer isso, buracos negros em miniatura podem ser formados no colisor.”
“Esta hipótese não pode ser testada, então trata-se de filosofia, e não de ciência. Isso não é o que queremos dizer com universos paralelos. Nós nos referimos a universos reais em outras dimensões,” ele completa.
Uma das muitas ideias incríveis consideradas é a de que o Big Bang nunca aconteceu e o universo sempre existiu.
O Grande Colisor de Hádrons pode salvar vidas
Longe de querer matar a todos, os cientistas da CERN esperam que as descobertas dos túneis possam mudar a história da humanidade.
Em uma entrevista concedida em 2014, o cientista Dr. Harry Cliff da CERN disse que a descoberta de partículas aparentemente obscuras pode alterar profundamente o mundo.
“Cerca de cem anos atrás, quando a primeira partícula – o elétron – foi descoberta, ela foi vista como um brinquedo dos cientistas sem muito uso prático,” o Dr. Cliff disse.
“Hoje, grande parte da nossa tecnologia é baseada no entendimento do elétron – do microchip ao diagnóstico médico por imagem. Em algumas décadas, o que descobrirmos no Grande Colisor de Hádrons pode levar a enormes avanços tecnológicos, mas é difícil saber de antemão quais avanços poderiam ser.”
“Construir estas máquinas gigantes nos força a desenvolver tecnologias muito inovadoras que já levaram, por exemplo, a formas mais eficazes de terapias contra o câncer, usando feixes de partículas para matar tumores.”
Fonte: Yahoo!