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O biólogo Sergio Oyama Junior comenta como as plantas podem trazer uma energia revigorante, um alento para a solidão e desesperança neste período de isolamento social.
” Ainda que eu venha cultivando orquídeas e outras plantas em apartamento, ao longo dos últimos dez anos, sempre acalentei o sonho de ter um espaço mais amplo e adequado para acomodá-las. Grande parte dos colecionadores que conheço dispõe de uma chácara, casa de campo ou estufa para manter suas orquídeas em condições adequadas. No entanto, esta estrutura requer a presença de um cuidador, geralmente um caseiro, para se encarregar da manutenção das plantas durante a ausência do proprietário. Além disso, este precisa realizar viagens frequentes, nem sempre curtas, para apreciar e gerenciar sua coleção de orquídeas.
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Durante este período difícil que a humanidade atravessa, em que somos obrigados a permanecer dentro de nossas casas, acabei me dando conta do privilégio que é cultivar orquídeas e outras plantas em interiores. Nestas circunstâncias, temos total autonomia e liberdade para providenciarmos a manutenção da coleção, sem dependermos de outras pessoas.
Além disso, e muito mais importante, podemos desfrutar da convivência com nossas orquídeas, coisa que seria impossível caso elas morassem a quilômetros de distância. Devido à falta de espaço, minha coleção se divide entre meu quarto e a varanda do apartamento. Sendo assim, durmo e acordo na companhia das plantas, elas estão sempre presentes no meu cotidiano. Nada mais conveniente para quem trabalha escrevendo sobre elas. Sempre que tenho alguma dúvida, na elaboração de um artigo, viro o pescoço e faço uma rápida consulta visual sobre minha coleção, que também me serve de inspiração para novos assuntos.
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Muito se tem comentado sobre a questão da saúde mental durante este período de confinamento. Neste contexto, acredito que ter plantas dentro de casa, inclusive orquídeas, ajuda imensamente a aliviar a tensão, o medo e as incertezas. Ao nos dedicarmos ao cuidado de outro ser vivo, desviamos o foco de nossos próprios umbigos, nossos problemas e concentramos as energias em ajudar os outros.
E esta relação é recíproca. Cuidando das orquídeas e outras plantas, acabamos recebendo de volta uma energia revigorante, um alento para a solidão e desesperança. Elas não são meros objetos de decoração, são seres vivos que reagem e respondem aos nossos atos. O convívio cotidiano com as orquídeas nos ensina a valorizar o nascimento de uma nova raíz e o surgimento de um botão floral. Aprendemos que algumas orquídeas florescem no inverno, outras ao longo do ano todo. Percebemos que as orquídeas também descansam, durante algumas estações, para então desabrocharem abundantemente em outras.
Trata-se de um processo muito mais intenso, sólido e prazeroso do que comprar um maço de flores de corte no supermercado, estruturas que já vêm prontas e floridas, para então contemplarmos seu fenecer, ao longo dos dias subsequentes. Ao cultivarmos orquídeas, temos a floração como recompensa de um trabalho de meses. E, após o término deste processo, temos a certeza de que novas flores virão, nos meses seguintes. Da mesma forma, temos a certeza de que a vida retomará seu curso normal, após a passagem deste furacão em nossas vidas.”
Fonte: Casa e Jardim