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O grupo internacional de cientistas que anunciou, em setembro, a descoberta de fosfina na atmosfera de Vênus – um importante indicador de presença de vida – publicou uma revisão dos dados na terça-feira (17) menos animadora: eles confirmaram a presença dos gás no planeta, mas em uma quantidade cerca de sete vezes menor do que a estimativa anterior.
O novo artigo, publicado no site da Cornell University, de Nova York, explica que, ao revisar parte dos dados da pesquisa original, os cientistas encontraram um erro de processamento no conjunto de dados de um dos telescópios usados para observar a superfície de Vênus.
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Liderado pela astrônoma Jane Greaves, professora da Universidade de Cardiff, no Reino Unido, o grupo procurava por fosfina em Vênus desde 2016 por meio de dois telescópios, um no Havaí, EUA, e outro no Atacama, no Chile.
Segundo a revista científica “Nature”, Greaves e sua equipe decidiram revisar o estudo depois que descobriram que os dados captados originalmente pelos telescópios sofreram interferência.
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Com a revisão, os níveis médios de fosfina em Vênus seriam cerca de uma parte por bilhão, sete vezes menor que o anunciado pelos cientistas inicialmente. Nas palavras dos cientistas, o que se acreditava ser uma grande quantidade mostrou-se uma “assinatura espectral de fosfina”.
“Temos trabalhado como loucos”, disse Greaves em uma reunião com pesquisadores da NASA, em 17 de novembro, de acordo com a “Nature”.
Uma das cientistas do grupo, a professora do MIT, nos Estados Unidos, Sara Seagers, postou o novo artigo em suas redes sociais e afirmou que os dados “recalibrados são menos ruidosos do que o original”.
Venus phosphine update: Newly recalibrated ALMA data is less noisy than the original but we the Greaves et al. team now find a weaker, tentative signal. https://t.co/aVsAJzfdTY . Meanwhile independent evidence from Pioneer Venus data finds phosphine: https://t.co/7WItBS6K5H
— Sara Seager (@ProfSaraSeager) November 17, 2020
Em setembro, Seagers já havia mostrado ponderação ao anunciar a descoberta do gás na atmosfera venusiana.
“Estamos animados com a descoberta”, disse Seager na época. “Mas não estamos afirmando que encontramos vida em Vênus”, destacou.
O artigo original foi publicado em 14 de setembro na “Nature”. Ele explica que a descoberta da fosfina em Vênus é surpreendente porque as condições na superfície do planeta são hostis à vida. Já a fosfina, por outro lado, é um gás que dificilmente seria produzido espontaneamente.
Além disso, a acidez das nuvens venusianas podem destruir rapidamente o gás na atmosfera, indicando que ele – na quantidade anterior observada – provavelmente seria produzido de maneira constante.
A fosfina é um gás que existe na Terra. Por aqui, ele precisa da atividade humana ou microbiana para ser produzido. Por isso, a descoberta sugere – ainda, mesmo que menos evidente agora, segundo a revisão – que Vênus pode hospedar vida microbiana.
Diferenças da fosfina da Terra e de Vênus
A fosfina existente na atmosfera terrestre é produzida por micróbios anaeróbicos (que não precisam de oxigênio) ou pela atividade industrial.
Em Vênus, os cientistas acreditam que a fosfina, encontrada mais especificamente nas nuvens do planeta, pode ter origem em processos fotoquímicos ou geoquímicos desconhecidos. Eles ainda não conseguiram identificar a fonte.
“Há duas possibilidades: pode haver alguma reação completamente desconhecida que está criando fosfina em Vênus, ou, a mais excitante, pode ser vida”, explicou William Bains, pesquisador do Instituto de tecnologia de Massachusetts (MIT), nos EUA, que também assina o artigo, em setembro.
“Estamos procurando por sinais de vida em exoplanetas, procurando por gases que não esperamos que estejam lá e há muitas missões em busca de potenciais sinais de vida em nosso Sistema Solar”, informou Seager.
Fonte: G1