05 de dezembro, 2025

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Chega de satélites quebrados e peças de foguetes descartadas: pesquisadores chineses defendem economia circular espacial

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A corrida espacial do século XXI avança em ritmo acelerado. E junto com ela crescem os impactos de uma indústria que ainda opera majoritariamente em modelo linear: lança, usa e descarta. Mas cientistas da China querem mudar isso.

Em um artigo publicado no periódico Chem Circularity, da Cell Press, eles defendem que o setor adote estratégias de circularidade já amplamente aplicadas na Terra, incorporando-as à forma como satélites e espaçonaves são projetados, reparados em órbita e descartados ao final de sua vida útil.

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“Com a aceleração da atividade espacial, desde megaconstelações de satélites até futuras missões à Lua e a Marte, devemos garantir que a exploração não repita os erros cometidos na Terra”, disse o autor sênior e engenheiro químico Jin Xuan, da Universidade de Surrey, em comunicado. “Um futuro espacial verdadeiramente sustentável começa com tecnologias, materiais e sistemas trabalhando em conjunto.”

Embora os foguetes deixem rastros de gases e substâncias nocivas já no lançamento, boa parte do impacto ambiental continua anos depois. A maioria dos satélites e espaçonaves não é reaproveitada, sendo que muitos são transferidos para “órbitas cemitério”.

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Outros, no entanto, se tornam detritos orbitais à deriva que podem interromper o funcionamento de sistemas ativos. Recentemente, inclusive, uma nave acoplada à estação espacial Tiangong, da China, sofreu uma fina rachadura na janela ao ser atingida por lixo espacial.

“Nossa avaliação preliminar é que o pedaço de detrito espacial era menor que 1 milímetro, mas estava viajando incrivelmente rápido. A rachadura resultante se estende por mais de um centímetro”, relatou Jia Shijin, projetista da nave espacial Shenzhou, à mídia CCTV. “Mas não podemos examiná-la diretamente em órbita, vamos estudá-la de perto quando retornar.”

Lixo espacial. Ilustração da Agência Espacial Europeia (Foto: Agência Espacial Europeia (ESA))

Reduzir, reutilizar e reciclar

O pesquisador Xuan e seus colegas argumentaram que a discussão sobre circularidade já deveria ocorrer no domínio espacial há muito tempo, e observaram que indústrias como a de eletrônicos pessoais e a automobilística já adotaram ideias semelhantes com considerável sucesso.

Segundo a equipe, a base de uma economia espacial circular reside nos 3 Rs: reduzir, reutilizar e reciclar. A redução do desperdício começaria com a construção de satélites e espaçonaves mais duráveis ​​e que possam ser reparados com mais facilidade no espaço.

Além disso, a sugestão é transformar as estações espaciais em centros multifuncionais onde as espaçonaves possam reabastecer, passar por reparos ou até mesmo ter novos componentes fabricados – isso poderia reduzir o número de lançamentos – e trazer espaçonaves e estações espaciais de volta à Terra em segurança para reutilização, mas isso exigiria sistemas de recuperação melhores, incluindo tecnologias como paraquedas e airbags.

Um ponto importante é que, como os equipamentos no espaço sofrem desgaste significativo devido às temperaturas extremas e à radiação, qualquer um destinado à reutilização precisaria passar por rigorosos testes de segurança.

Os pesquisadores também recomendam novos esforços para coletar detritos orbitais, como o uso de braços robóticos ou redes para coletar fragmentos, de modo que os materiais possam ser reciclados. Isso também ajudaria a evitar colisões que criam ainda mais detritos.

Eles ainda apontam que as ferramentas baseadas em dados desempenharão um papel importante nessa transição e que os sistemas de IA podem ajudar espaçonaves e satélites a evitar detritos perigosos em tempo real.

Segundo os autores, uma economia espacial circular representa uma grande mudança no funcionamento do setor espacial. “Precisamos de inovação em todos os níveis, desde materiais que podem ser reutilizados ou reciclados em órbita e espaçonaves modulares que podem ser atualizadas em vez de descartadas, até sistemas de dados que rastreiam como o hardware envelhece no espaço”, apontou Xuan.

E ele completou: “Mas, igualmente importante, precisamos de colaboração internacional e de estruturas políticas que incentivem a reutilização e a recuperação para além da Terra. A próxima fase consiste em conectar química, design e governança para tornar a sustentabilidade o modelo padrão para o espaço”.

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