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Entre 7 de março e 13 de junho de 2019, o presidente colombiano, Iván Duque, assegurou em pelo menos cinco ocasiões que mais de 80.000 hectares de cultivos de coca haviam sido erradicados durante o seu governo.
Se fosse assim, a cifra representaria o maior êxito na eliminação manual – sem fumigações aéreas – de cultivos ilegais na história da Colômbia, o maior produtor mundial de cocaína, assim como de sua matéria-prima.
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No entanto, estes números não estão de acordo com as estatísticas do próprio governo. Dados do Ministério da Defesa indicam que os cultivos estão sendo erradicados em um ritmo muito mais lento do que Duque informa publicamente.
O que sabemos?
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Durante 2019, Duque destacou os feitos de seu governo na erradicação forçada da folha de coca. O presidente assumiu em 7 de agosto de 2018 com a promessa de combater frontalmente o narcotráfico.
Entre 2016 e 2017, a Colômbia alcançou um recorde mundial na área semeada de folhas de coca: 171.000 hectares, segundo um informe das Nações Unidas. Os Estados Unidos, principal destino da cocaína, exigiram de Duque maiores resultados nesta frente.
Segundo Duque, só nos primeiros quatro meses de sua gestão, 60.000 hectares foram eliminados e o total chegou a 80.000 para a primeira semana de março de 2019.
No entanto, o informe do Ministério da Defesa enviado à AFP não só dá conta dos 80.000 hectares mencionados por Duque, mas segundo este, a cifra de 60.000 hectares erradicados foi alcançada em 1º de maio de 2019, isto é, cinco meses depois do assegurado pelo presidente.
O que verificamos?
Em 13 de fevereiro 2019, Duque assegurou durante uma reunião com seu contraparte americano, Donald Trump, que “60.000 hectares” de folha de coca tinham sido erradicadas em seus primeiros quatro meses de governo.
Ao solicitar informação ao ministério da Defesa, responsável pelo programa de erradicação forçada, a equipe de checagem da AFP recebeu dados diferentes.
Segundo o ministério, nos primeiros cinco meses da administração Duque – de 7 de agosto a 31 de dezembro de 2018 – foram erradicados 30.435 hectares de coca, o que equivale a 6.087 hectares por mês.
Isto significa que a cifra está longe dos pouco mais de 15.000 hectares de coca por mês que implicam o que foi dito por Duque e no encontro com Trump.
Embora oficialmente trabalhe-se com estatísticas diferentes, aos 30.435 hectares forçosamente poderiam se somar os 8.549 eliminados voluntariamente no âmbito do Programa Nacional de Substituição de Cultivos (PNIS) entre agosto e dezembro de 2018.
Neste caso, o total seria de 38.984 hectares de coca eliminados nos primeiro cinco meses de governo, ou seja, 21.016 a menos que os 60.000 citados pelo presidente em Washington.
Em 7 de março de 2019, Duque solicitou à Corte Constitucional da Colômbia a modificação da sentença de 2015 que suspendeu as fumigações aéreas com glifosato.
Em sua intervenção no tribunal, afirmou: “Erradicamos no transcorrer do nosso governo mais de 80.000 hectares” de coca.
Esta última cifra suporia uma erradicação manual de 11.428 hectares mensais nos primeiros sete meses de seu mandato, um recorde histórico para a Colômbia.
No entanto, o dado mais uma vez não coincide com os informes de sua administração: a pasta da Defesa indica que entre 7 de agosto de 2018 e 1º de maio de 2019 foram erradicadas de forma forçosa 61.737 hectares.
Quer dizer que sete semanas depois da fala do presidente perante os juízes, o ministério reportava uma quantidade de hectares erradicados muito inferior à citada por Duque nesta ocasião: 61.737 contra 80.000.
Esta cifra foi reiterada pelo presidente em pelo menos outras três intervenções públicas: em 7 de junho durante uma cerimônia com a cúpula militar; em 11 de junho em uma fala e dois dias depois, em uma cerimônia da Polícia.
Em 17 de junho, cinco dias depois de um comentarista de televisão questionar estas cifras pelo Twitter, Duque afirmou ter erradicado “mais de 60.000 hectares” de coca durante viagem oficial a Londres.
Embora este dado signifique 20.000 hectares a menos que o anunciado pelo mesmo quatro dias antes, pela primeira vez no ano de 2019 o número coincidia com os reportes de seu próprio governo.
Consultada pela AFP sobre estas inconsistências, o serviço de imprensa do governo evitou se pronunciar.
O que podemos concluir?
As cifras sobre a erradicação manual de narcocultivos aportadas pelo Ministério da Defesa contradizem as fornecidas este ano pelo presidente Iván Duque em várias ocasiões.
Os dados do governo indicam que os cultivos são erradicados a um ritmo muito mais lento que o apontado pelo presidente ao seu colega americano em fevereiro; a um alto tribunal colombiano em março e outras intervenções públicas em 2019.
Fonte: Yahoo!