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O nome de Sérgio Sette Câmara é um dos primeiros citados quando o assunto é quem vai levar o Brasil de volta à Fórmula 1. Isso não é por acaso: o mineiro de 20 anos está indo para sua terceira temporada na F2 e assumiu no final do ano passado o posto de piloto de desenvolvimento de uma das equipes mais tradicionais do esporte, a McLaren. Mas poucos sabem que a carreira do piloto quase esteve por um triz não muito tempo atrás.
Em entrevista ao Yahoo, Sette Câmara revelou que quase desistiu da carreira ainda no kart, quando estava correndo na Europa e encontrou pela frente mais politicagem do que esporte. “A nossa equipe estava focada em outros pilotos e acho que me viam como um cliente, não como um piloto que podia ganhar corrida. E é difícil tirar esse rótulo. Depois, mudamos para uma equipe menor e, logo na minha primeira corrida, eu já ganhei. Foi quando vimos que kart é equipamento puro. Na minha opinião, no kart europeu o equipamento conta muito mais que o piloto, muito mais que no Brasil”, afirmou.
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“O kart no Brasil é tão forte quanto na Europa. É um kart mais puro, enquanto na Europa é completamente controlado pelo dinheiro e pelas conexões que você tem. No meu caso, erramos, não fui parar na equipe certa e sofri muito. Tanto, que quase parei de correr. Foi o momento mais crítico da minha carreira.”
Não que isso tenha sido o único momento difícil no caminho de Sette Câmara até aqui. Pressionado pelo exemplo de Max Verstappen, que saiu do kart em 2014, foi direto para a F3, salto considerado bastante ousado, e acabou contratado pela Toro Rosso na F1 em uma questão de meses, Sette Câmara fez o mesmo. O começo na F3 foi difícil, mas sua evolução foi grande ao longo de 2015, inclusive com uma ótima performance em Macau, tradicional prova em um dos circuitos mais difíceis do mundo.
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Tudo parecia correr bem, com a contratação de Sette Câmara para o programa de jovens talentos da Red Bull, o mesmo pelo qual passaram o próprio Verstappen, Daniel Ricciardo e Sebastian Vettel. Mas, no final de 2016, após uma temporada irregular, veio a demissão.
Foi o segundo grande baque. Sair de um programa de desenvolvimento de uma equipe de F1 após apenas um ano não fez nada bem para a imagem de Sette Câmara na época, mas hoje o piloto acredita que a experiência tenha lhe dado lições importantes.
“Ajudou demais. Eu vi o que as pessoas esperam de um piloto e me coloquei na posição do Dr. Marko [ex-piloto e consultor da Red Bull]. Comandando um programa daquele nível, ele depende do resultado do piloto para mantê-lo. Aprendi que não é só ser rápido: você precisa saber disputar um campeonato, tem que ser um piloto completo. Isso me preparou para que eu chegasse mais tranquilo na McLaren agora. Foi muito importante.”
Tão importante que o fato de ter se reerguido daquela experiência acaba tirando muito da pressão dos ombros de Sette Câmara em sua nova função. Perguntado se tem medo da história se repetir e uma equipe de F1 o rejeitar, ele é firme: “Não tenho medo nenhum. Porque eu sei que eu irei bem na F2 neste ano. Não quero dizer que não há essa possibilidade, mas não tenho medo porque já passei por isso e sei que há portas também em outros lugares. Considero-me um piloto completo, rápido e que também sabe ajudar no desenvolvimento do carro. Então acho que eu encontraria uma maneira de me profissionalizar. Claro que eu gostaria que isso acontecesse na F1, mas sinto que estaria tranquilo para encontrar outra equipe por aqui ou em outra categoria.”
Essa tranquilidade também vem com a maturidade. Sette Câmara é visto no mundo do automobilismo como um piloto rápido, mas que peca em consistência – e ele mesmo concorda com essa avaliação. Entretanto, a temporada de 2018 da F2, em que dividiu a equipe Carlin com Lando Norris, uma das grandes promessas da Inglaterra e atualmente titular da McLaren, foi importante para desafiar essa fama.
“Foi muito importante estar ao lado do Lando, sob o holofote e em uma estrutura forte montada por ele. No começo, houve certo estresse, não sabia se eles iam me prejudicar e houve momentos na temporada em que eu cheguei a questionar por que meu carro quebrava toda hora. Mas a Carlin me deu uma chance muito legal, um carro rápido. Se eles quisessem ter me prejudicado, é algo fácil de fazer. Mas não fizeram. Foi um ano muito importante para mim.”
O próximo passo, além do trabalho no simulador da McLaren, ajudando no desenvolvimento de peças e testando acertos para os carros, é lutar pelo título da F2. Neste ano, o mineiro vai correr pela DAMS que, a exemplo da Carlin, é uma das maiores equipes da categoria.
“Meu foco é tentar ser campeão da F2 ou tentar mostrar ser o melhor piloto do campeonato de alguma forma. E então, com base no meu rendimento, a McLaren vai escolher se vai me dar algum tipo de teste [durante a temporada de 2019]. Quero fazer um bom trabalho na F2 e o resto não depende de mim, então não adianta eu me estressar.”
Mesmo adotando a tática de controlar as expectativas, Sette Câmara não esconde que sua meta é chegar na F1 com a McLaren, equipe que passa por fase difícil, sem vencer uma corrida desde 2012, mas que está vivendo uma reestruturação, com dois pilotos jovens – Norris e Carlos Sainz – a recente chegada de novos diretores e a presença, desde meados do ano passado, de Gil de Ferran como chefe.
“Espero que seja um projeto duradouro na McLaren. Eles estão abrindo uma nova etapa, mudando algumas peças e a forma de trabalhar. Acho que a equipe vai voltar ao lugar onde ela merece. E eu quero estar nesse projeto.”
Fonte: Yahoo!