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Durante um protesto estudantil em 2011, para reivindicar a gratuidade da educação no Chile, os manifestantes de várias universidades perceberam que um cachorro preto se uniu aos estudantes, latindo contra os policiais, e tentando até morder a tropa de choque.
O cão morreu em 2017, mas se tornou uma celebridade e o símbolo do movimento social que explodiu no Chile em 18 de outubro de 2019 – o maior desde o fim da ditadura de Pinochet (1973-1990).
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Batizado de “Matapacos” (matador de policiais em tradução livre), o animal tem estampado camisetas, bolsas, chaveiros, cartazes e grafites espalhados por Santiago. Sua marca registrada era o lenço vermelho em volta do pescoço, mas nos desenhos ele também aparece com uma auréola sobre a cabeça.
“Esse vira-lata é um símbolo de resistência, sendo um cachorro perdido, simboliza o povo e as classes populares”, diz Paula, 23 anos, que abandonou seus estudos no ano passado e vende ímãs com a foto de Matapacos por cerca de US$ 0,65, aproximadamente R$ 3.
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Perto da praça Itália, no centro de Santiago, chamada de praça da Dignidade pelos manifestantes, os admiradores de “Matapaco” instalaram uma estátua de papelão para homenageá-lo, que já foi queimada e destruída diversas vezes.
No dia 17 de janeiro, os manifestantes a consertaram novamente. Símbolo da rebelião do povo contra as autoridades o nome do cachorro desagrada os policiais chilenos, mas diverte os manifestantes.
“É um insulto, sim”, reconhece Diana, 35 anos. Para ela, o animal simboliza a luta social dos chilenos. “É uma metáfora”, declara Alejandra, outra manifestante que evita usar seu lenço com a imagem do cachorro para não ter problemas com a tropa de choque.
Mais de 300 pessoas foram feridas nos olhos pelas bombas de gás lacrimogêneo ou balas de borracha lançadas pela polícia desde o início dos protestos. As violências policiais foram denunciadas pela ONU, a Anistia Internacional e a organização Human Rights Watch.
“Ele via os protestos e saía correndo atrás”
O cachorro símbolo da revolução tinha, na verdade, casa e comida. Segundo María Campos, que sempre o abrigava, o bicho saía correndo assim que via um protesto. “Ele não conseguia se segurar e saia correndo atrás”, diz. “Ele tinha uma casa, é verdade, mas na essência continuava sendo um cachorro de rua, bem típico daqui”.
Os cães pretos têm menos chance de serem adotados, ninguém quer saber deles”, afirma Carolina, manifestante de 32 anos. “Nos bairros chiques, ninguém liga para eles”, estima Diana, que veio aos protestos com seu filho. De acordo com as autoridades chilenas, existem mais de 250 mil cachorros perdidos no Chile, em todas as cidades do país, e que aparecem com frequência no meio das manifestações.
Fonte: Yahoo!