O estudo do Trata Brasil destaca ainda o desempenho das 100 maiores cidades do país em comparação com a média nacional. Segundo Édison Carlos, presidente do instituto, estas cidades deviam puxar o crescimento do país, já que têm estruturas públicas e privadas mais bem desenvolvidas e porque abrangem cerca de 40% da população do Brasil. As diferenças entre os índices nacionais e os dessas cidades, porém, são poucas. O índice de perda de água é de 37,8%, contra os 36,7% nacionais, e a melhora entre 2011 e 2015 foi semelhante – 2 pontos percentuais.
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“São grandes aglomerados com capacidade de investimento, de fazer projetos, com corpo de engenharia, estão esperávamos que estas 100 cidades fossem a locomotiva do país. Os números, porém, mostram que não, que nem as capitais estão conseguindo fazer o papel de melhorar mais rapidamente os indicadores de água e esgoto”, afirma Édison Carlos. “Se essas cidades não estão conseguindo, imagina os municípios menores, que têm piores estruturas.”
O único índice que avançou muito mais nas grandes cidades que no restante do país foi o de coleta de esgoto. A cobertura nacional é de apenas 50,3% da população – o que significa que mais de 100 milhões de pessoas utilizam medidas alternativas para lidar com os dejetos, seja através de uma fossa, seja jogando o esgoto diretamente em rios. Já nas 100 maiores cidades, a cobertura é de 71,1%.
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O presidente do Trata Brasil cita o caso de São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, que passou de 5% em 2008 para 100% em 2015 no tratamento de esgoto principalmente por causa da construção e do funcionamento de uma estação. “Os esforços feitos nessas grandes cidades elevam os indicadores de uma forma mais rápida. É um ponto positivo, mas ainda é pequeno para o problema do saneamento do país”, afirma.
Apesar disso, segundo o estudo, o pior indicador de cobertura entre as maiores cidades é o de tratamento de esgoto. Apenas 21% dessas cidades tratam mais de 80% de seu esgoto. Outros 21% tratam menos de 20%. Além de São José do Rio Preto, apenas 5 das 100 cidades reportaram tratar todo o esgoto – Campina Grande (PB), Jundiaí (SP), Limeira (SP), Niterói (RJ) e Piracicaba (SP). Já quatro não tratam nada: São João do Meriti (RJ), Santarém (PA), Governador Valadares (MG) e Porto velho (RO).
Investimentos e perda no faturamento
Édison Carlos afirma que, além do desperdício que o índice de perdas nas distribuições de água tratada representa, é importante destacar o que as cidades deixam de arrecadar com essas perdas.
O índice de perdas de faturamento total, que estima o quanto da água potável produzida não foi faturada, é de 41,3% para as grandes cidades. Em cidades como Santo André (SP) e Vitória da Conquista (BA), os percentuais ficam abaixo de 10%, mas os números podem se elevar de forma alarmante, como no caso de Manaus, em que 73,1% da água não é cobrada.
“É um absurdo, é impossível fazer investimentos no setor de saneamento com perda financeira na ordem de 70%. E são volumes gigantescos de água que se perdem”, afirma Édison Carlos. “O que se espera não é fácil, pois trocar redes com a capital inteira funcionando não é simples. Tem que paralisar rua. São quilômetros e quilômetros de tubulações para serem trocadas, mas tem que fazer, porque, se não fizer, não vai ter recurso para investir no sistema.”
O problema da perda de faturamento se junta ao da baixa arrecadação de saneamento que, de fato, volta como melhorias e investimentos. Das 100 grandes cidades analisadas no estudo, 70 investiram menos de 30% da arrecadação. “O dinheiro foi para a empresa, para a prefeitura, para pagar os funcionários, não para o sistema de saneamento. É muito sintomático, pois o que arrecada tem que ser também reinvestido no próprio sistema. Não está havendo uma preocupação com a ampliação das redes de saneamento.”
Ranking do saneamento
O estudo também faz um ranking das 100 maiores cidades do país baseado nos diversos indicadores de saneamento básico, como acesso ao abastecimento de água e à coleta de esgoto, o percentual do esgoto tratado e investimentos e arrecadação no setor. Veja a lista abaixo.
1º – Franca (SP)
2º – Uberlândia (MG)
3º – São José dos Campos (SP)
4º – Santos (SP)
5º – Maringá (PR)
6º – Limeira (SP)
7º – Ponta Grossa (PR)
8º – Cascavel (PR)
9º – Londrina (PR)
10º – Vitória da Conquista (BA)
11º – Curitiba (PR)
12º – Suzano (SP)
13º – Uberaba (MG)
14º – Taubaté (SP)
15º – Jundiaí (SP)
16º – Piracicaba (SP)
17º – Campinas (SP)
18º – Campina Grande (PB)
19º – Niterói (RJ)
20º – São Paulo (SP)
21º – Mauá (SP)
22º – Ribeirão Preto (SP)
23º – São José do Rio Preto (SP)
24º – Porto Alegre (RS)
25º – Goiânia (GO)
26º – Campo Grande (MS)
27º – Sorocaba (SP)
28º – Brasília (DF)
29º – Mogi das Cruzes (SP)
30º – Foz do Iguaçu (PR)
31º – Belo Horizonte (MG)
32º – Praia Grande (SP)
33º – Santo André (SP)
34º – Campos dos Goytacazes (RJ)
35º – Petrolina (PE)
36º – Petrópolis (RJ)
37º – Caxias do Sul (RJ)
38º – São Bernardo do Campo (SP)
39º – Vitória (ES)
40º – Montes Claros (MG)
41º – Volta Redonda (RJ)
42º – João pessoa (PB)
43º – Diadema (SP)
44º – Contagem (MG)
45º – Salvador (BA)
46º – São José dos Pinhais (PR)
47º -Carapicuíba (SP)
48º -Juiz de Fora (MG)
49º – Florianópolis (SC)
50º – Boa Vista (RR)
51º – Betim (MG)
52º – Osasco (SP)
53º – Guarulhos (SP)
54º – Ribeirão das Neves (MG)
55º – Feira de Santana (BA)
56º – Rio de Janeiro (RJ)
57º – Serra (ES)
58º – Governador Valadares (MG)
59º – São Vicente (SP)
60º – Guarujá (SP)
61º – Anápolis (GO)
62º – Santa Maria (RS)
63º – Caruaru (PE)
64º – Aracaju (SE)
65º – Blumenau (SC)
66º – Bauru (SP)
67º – Cuiabá (MT)
68º – Mossoró (RN)
69º – Itaquaquecetuba (SP)
70º – Fortaleza (CE)
71º – Pelotas (RS)
72º – Vila Velha (ES)
73º – Joinville (SC)
74º – Rio Branco (AC)
75º – Recife (PE)
76º – Natal (RN)
77º – Aparecida de Goiânia (GO)
78º – Paulista (PE)
79º – São Luís (MA)
80º – Caucaia (CE)
81º – Olinda (PE)
82º – São João de Meriti (RJ)
83º – Belford Roxo (RJ)
84º – Canoas (RS)
85º – Cariacica (ES)
86º – São Gonçalo (RJ)
87º -Maceió (AL)
88º – Teresina (PI)
89º – Juazeiro do Norte (CE)
90º – Belém (PA)
91º – Duque de Caxias (RJ)
92º – Nova Iguaçu (RJ)
93º – Várzea Grande (MT)
94º – Gravataí (RS)
94º – Manaus (AM)
96º – Macapá (AP)
97º – Porto velho (RO)
98º – Santarém (PA)
99º – Jaboatão dos Guararapes (PE)
100º – Ananindeua (PA)
Fonte: G1