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Mulheres, coletivos feministas, movimentos sociais e populares fizeram nesta quinta-feira, 15, ato contra a violência de gênero e em repúdio ao feminicídio praticado contra a vereadora fluminense Marielle Franco, do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL). A parlamentar foi morta após diversos tiros serem disparados contra seu carro, na região central do Rio de Janeiro.
O protesto ocorreu no final da tarde, com manifestantes reunidos na Praça Rubião Júnior (em frente à Catedral de Botucatu), onde foram promovidos debates quanto a violência de gênero, repressão do Estado e a discriminação étnica-social. O chão da praça recebeu desenhos com silhuetas de pessoas mortas. Segundo os organizadores, a mobilização externou a perplexidade não só contra o assassinato da parlamentar, mas a generalização de crimes hediondos. “Este ato denuncia também a violência de gênero e a violência contra jovens negros e pessoas empobrecidas. Vamos, com isso, denunciar as perdas dos direitos a falta de democracia em nosso país”, salientou Beatriz Stamato, do Instituto Giramundo, e uma das organizadoras da manifestação. “O assassinato cruel de Marielle representa tudo que precisamos combater. É violência de gênero, de raça e perseguição política”, completou.
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Daniel de Carvalho, presidente do Diretório Municipal do PSOL de Botucatu, esteve com Marielle em três eventos sobre representação feminina na política e nos debates de igualdade de gênero. O dirigente partidário classifica como barbárie a execução da vereadora e seu motorista.
“O que aconteceu foi um absurdo, uma tragédia. Ela era uma pessoa única. Como militante e presidente do PSOL tenho orgulho de ter sido da mesma geração e a conhecido. Era difícil não admirar toda a trajetória: ser mulher, negra, da favela, lésbica. Saber da sua luta pela igualdade. É mais uma barbárie, não só contra lideranças de quem quer fazer o Brasil um lugar melhor, mas contra a mulher”, afirmou Carvalho.
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O crime contra Marielle ocorreu por volta das 21h30 de quarta-feira, 14, na região central do Rio de Janeiro. Bandidos em um carro emparelharam ao lado do veículo onde estava a vereadora e dispararam. Marielle foi atingida com pelo menos quatro tiros na cabeça. A perícia encontrou nove cápsulas de tiros no local. Os criminosos fugiram sem levar nada.
Além da vereadora, morreu o motorista do carro, e uma assessora, que a acompanhava, sofreu ferimentos em decorrência dos estilhaços. A polícia trabalha com a hipótese de execução.
Marielle tinha 38 anos e se apresentava como “cria da Maré”. Ela foi a quinta vereadora mais votada do Rio nas eleições de 2016, com 46.502 votos em sua primeira disputa eleitoral. Socióloga formada pela PUC-Rio e mestra em Administração Pública pela Universidade Federal Fluminense (UFF), teve dissertação de mestrado com o tema “UPP: a redução da favela a três letras”. Trabalhou em organizações da sociedade civil como a Brasil Foundation e o Centro de Ações Solidárias da Maré (Ceasm). Coordenou a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), ao lado de Marcelo Freixo.
Brasil tem uma das mais altas taxas de feminicídio do mundo
Segundo estatística da Organização Mundial da Saúde (OMS), o número de assassinatos chega a 4,8 para cada 100 mil mulheres. Os números colocam o Brasil como o quinto país com mais incidência deste tipo de crime de gênero.
O Mapa da Violência de 2015 aponta que, entre 1980 e 2013, 106.093 pessoas morreram por sua condição de ser mulher. As mulheres negras são ainda mais violentadas. Apenas entre 2003 e 2013, houve aumento de 54% no registro de mortes, passando de 1.864 para 2.875 nesse período. Muitas vezes, são os próprios familiares (50,3%) ou parceiros/ex-parceiros (33,2%) os que cometem os assassinatos.
Com a Lei 13.140, aprovada em 2015, o feminicídio passou a constar no Código Penal como circunstância qualificadora do crime de homicídio. A regra também incluiu os assassinatos motivados pela condição de gênero da vítima no rol dos crimes hediondos, o que aumenta a pena de um terço (1/3) até a metade da imputada ao autor do crime. Para definir a motivação, considera-se que o crime deve envolver violência doméstica e familiar e menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
Fonte: Flávio Fogueral / Jornal Leia Notícias – Foto Daniel Carvalho