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No final de março de 2020, um artigo escrito por pesquisadores do KWR Water Research Institute, de Nieuwegein, nos Países Baixos, relatou a detecção de fragmentos de RNA do SARS-CoV-2 em amostras de esgoto de Amsterdã e de cinco localidades. A notícia se espalhou rapidamente e estimulou virologistas, engenheiros ambientais e bioquímicos espalhados pelo Brasil a procurar rastros do coronavírus causador da covid-19 na rede nacional de esgotos.
“A descoberta de que fragmentos do SARS-CoV-2 são eliminados nos excrementos humanos chamou a atenção de quem já monitorava outros vírus e bactérias no esgoto”, explica a biomédica Maria Inês Zanoli Sato, gerente do Departamento de Análises Ambientais da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb). A empresa estatal começou a procurar pelo patógeno na primeira semana de abril do ano passado. Mais ou menos na mesma época, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) iniciou um trabalho semelhante em Niterói, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) fez o mesmo em Belo Horizonte e em parte da cidade vizinha de Contagem.
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Coletas semanais
Em São Paulo, bem antes da pandemia, a vigilância ambiental em busca da circulação de patógenos no esgoto já era rotina na Cetesb. Mas o acompanhamento era focado em vírus como o da poliomielite e em bactérias como Vibrio cholerae, causadora da cólera. Seu objetivo é atuar como uma sentinela e alertar as autoridades sanitárias e de saúde pública sobre a presença e os níveis de concentração de agentes infecciosos em rios, represas, córregos, na rede de esgoto e em suas estações de tratamento. O monitoramento do coronavírus foi iniciado por meio de coletas semanais nas cinco principais estações de tratamento da Região Metropolitana de São Paulo. “Assim que começamos o monitoramento, já detectamos índices elevados de SARS-CoV-2 no esgoto, mesmo com casos oficiais superbaixos, indicando uma possível subnotificação”, lembra Sato.
Com o passar do tempo, a Cetesb ampliou o raio de coleta para regiões mais vulneráveis da Grande São Paulo, a fim de investigar a concentração do coronavírus em áreas sem coleta e tratamento de esgoto, e posteriormente a cidades do litoral e do interior do estado.
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Um projeto de curto prazo da agência ambiental é comparar a concentração de SARS-CoV-2 no esgoto dos dois municípios paulistas que tiveram sua população adulta completamente imunizada como parte de estudos científicos que procuram testar a eficácia de vacinas contra o coronavírus. “Vai ser importante acompanhar o comportamento do RNA viral nos esgotos de Serrana e de Botucatu”, comenta a biomédica. “Na primeira cidade, a população foi vacinada com a CoronaVac, que usa o vírus -2 inativado. Na segunda, as pessoas receberam o imunizante da AstraZeneca, que utiliza outra tecnologia, a de vetor viral, que usa o DNA do adenovírus de chimpanzé contendo genes da proteína spike do SARS-CoV-2).”
Fonte: Revista Planeta