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Dependendo da gravidade do quadro, uma pessoa que sofre infarto pode ser submetida a procedimentos como o cateterismo com maior urgência do que outras. Os critérios para atendimento dos pacientes com diagnóstico de infarto foram alvo de questionamento nesta semana, devido à rapidez com que o ator Maurício Mattar foi atendido em hospitais da rede pública da região.
Na madrugada de segunda-feira (16), o artista sofreu um infarto, foi encaminhado para o Hospital Estadual de Bauru e, na tarde do mesmo dia, passou por cateterismo no Hospital das Clínicas de Botucatu. Ele recebeu alta no dia seguinte. Foi o suficiente para que parentes de pessoas que enfrentam o mesmo problema reclamassem.
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A leitora Josiane Amorim Quires, 33 anos, por exemplo, entrou em contato com o JC. Ela conta que sua mãe, Maria Madalena Amorim Quires, 56 anos, enfartou em 29 de novembro, conseguiu transferência para o HE em 8 de dezembro e o cateterismo em Botucatu só foi agendado para 13 de janeiro de 2020.
“Fui informada de que, no fim do ano, o hospital entra em recesso. E também disseram que não tem vaga em menor tempo. Então, minha mãe vai ficar internada no Natal e Ano Novo, longe da família”, conta Josiane, que mora em Pederneiras. Vale lembrar que, desde junho deste ano, Bauru deixou de realizar o procedimento pelo SUS após quebra dos equipamentos do HE e Hospital de Base.
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ELETIVO X URGENTE
Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde informou que Maria Madalena deu entrada no HE em 1 de dezembro – e não no dia 8 – com quadro de cardiopatia. “O caso é considerado eletivo, quando o cateterismo pode ser realizado em 30 dias ou mais”.
Já o ator Maurício Mattar “foi inserido na Central de Regulação de Vagas como um caso de urgência, conforme critérios estabelecidos pelo SUS, que prioriza casos mais graves”, acrescenta a assessoria da pasta estadual. Ainda de acordo com a secretaria, “neste momento, não existe nenhum caso pendente em caráter de urgência para cateterismo na região de Bauru”.
Na última sexta-feira (13), o governo do Estado anunciou que fará um “Corujão da Hemodinâmica” com o objetivo de zerar a demanda reprimida por cateterismo e angioplastia em 68 municípios da região. A fila de espera é superior a 600 pacientes.
Por meio de nota, a pasta também destacou que o Estado investiu R$ 2,1 milhões para a compra de um novo equipamento de hemodinâmica para o Hospital de Base, que está em fase de instalação.
Nível de obstrução de artérias é o que determina prioridade do caso
Samantha Ciuffa/JC Imagens
Roberto Chaim Berber explica como os casos são avaliados.
O cateterismo é um exame realizado para confirmar a presença de obstruções das artérias coronárias ou avaliar o funcionamento das válvulas e do músculo cardíaco. Presidente regional da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, Roberto Chaim Berber, explica que o procedimento é menos ou mais urgente dependendo do resultado de outro exame: o eletrocardiograma.
“Ele nos mostra alterações que denotam diferentes gravidades de infarto e uma delas é a elevação do segmento ST. Quando o infarto tem supradesnível do segmento ST, significa que os vasos do coração estão completamente entupidos e precisam ser desobstruídos o mais rápido possível, sob risco de perdermos uma quantidade de músculo cardíaco muito grande, implicando em risco iminente de morte”, detalha.
Nestes casos, o cateterismo deve ser realizado nas primeiras horas – ou em uma média de prazo de 48 horas, se houver a administração de medicamento trombolítico, que ajuda a dissolver coágulos. Segundo o cardiologista, também ajudam a detectar o grau de prioridade no atendimento os sinais clínicos, como intensidade de dor, pressão arterial e batimentos cardíacos do paciente.
“Mas o principal norteador é o eletrocardiograma”, reforça. A partir do resultado do exame, o paciente é classificado como de alto, médio ou baixo risco. Mas, mesmo que o nível de obstrução dos vasos do coração não seja tão grave, Berber diz que não há justificativa clínica para manter um paciente internado por um mês e meio até a realização de cateterismo, como seria o caso de Maria Madalena Amorim Quires.
“Até para o sistema de saúde é ruim, porque o gasto de um paciente internado por tanto tempo é muito maior do que o custo do procedimento em uma clínica particular. É algo que extrapola o razoável”, observa.
Fonte: Jcnet