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Projeto concebido por dois estudantes de arquitetura de Botucatu poderá dar novos ares para um dos locais mais emblemáticos das tradições religiosas locais: a capela de Ana Rosa, construída em 1921, em homenagem à mulher vítima de violência doméstica e morta em uma emboscada, e que recebeu milhares de visitantes ao longo das décadas.
Lucas Oliveira Moura e Vanessa Marino, botucatuenses e estudantes de arquitetura e urbanismo, fizeram a concepção de um possível restauro e ideias de modernização para a capela, instalada na Rua Mário Barbieris, na Cohab 1, local onde Anna Rosa teria sido morta pelo marido. O feminicídio ocorreu no século XIX.
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O projeto surgiu como demanda de uma das disciplinas e que consistia em analisar um local da cidade e restaurar usando os princípios de outros arquitetos do século 19. A orientação dos trabalhos foi da arquiteta e professora Ludimila Tidei, que também é responsável pela restauração do prédio da Caridade Portuguesa (antigo Consulado de Portugal) no Centro Histórico de Botucatu.
O plano apresentado pelos acadêmicos estabelece a recuperação do material original da capela, bem como os traços da mesma para a manutenção das características arquitetônicas. Segundo Moura, a única alteração será a remoção de uma parede que serve de divisão entre o altas e o salão de devotos. Com isso será possível dar maior amplitude ao salão e possibilitar maior recepção aos visitantes.
Ainda pelo projeto apresentado, na parte do terreno dos fundos, onde hoje se encontra uma área vazia, foi pensado em futuramente a implantação do “Memorial da Ana Rosa”. Os pontos chaves desse ambiente, além da inclusão do salão de devotos, são o auditório, o velário e as paredes de exibição contando a história da Santa milagreira.
“O prédio é de grande importância para Botucatu pela sua história e pela devoção dos fies pela capela. Há projetos da igreja matriz junto a prefeitura de tornar o local em um centro para visitações para pessoas de toda a região, tornando assim mais um ponto turístico da cidade. O prédio mantém sua construção praticamente original até os dias de hoje, com mínimas intervenções”, salienta Moura.
Conforme explica, a capela consistiu em um sistema simples de construção, com planta baixa e só uma nave, com simplicidade em seu interior. “Sua construção segue o segundo período dos jesuítas quando os povoados adquiriram caráter mais estável, a arquitetura começou a incorporar, pouco a pouco, alguns componentes de sistemas construtivos europeus. Sistemas de caibros armados em tesoura em duas águas, cobertos por telhados cerâmicos, onde as paredes, vedações de tijolo de adobe, rebocadas e pintadas em branco, cobertas por pintura cor de rosa para destacar a identidade da capela.
O projeto, por ser acadêmico, ainda não foi analisado pela comunidade ou mesmo Poder Público. No entanto, pode servir de embasamento para futuras intervenções de proteção a um dos locais mais visitados e conhecidos de Botucatu.
Capela homenageia uma vítima de crime bárbaro
A capela de Ana Rosa é uma homenagem à mulher, com então 20 anos de idade, morta pelo marido, Francisco de Carvalho Bastos (Chicuta) após uma emboscada naquele exato local, em dia 21 de junho de 1885. Toda a história se desenrola pelos abusos físicos que a vítima (nascida em Avaré) sofria de Chicuta, oriundos do excesso de ciúmes. Cansada da violência, fugiu e conseguiu abrigo em um cabaré, de propriedade de Fortunata Jesuína de Melo.
Ao chegar em casa, Chicuta não encontrou Ana Rosa e planejou a vingança. Contratou José Antonio da Silva Costa, o Costinha, e Hermenegildo Vieira do Prado, o Minigirdo, para tirar a vida da esposa. Costinha se aproximou de Ana Rosa e a prometeu ajuda. A mulher aceitou e, durante a fuga, nas proximidades do Ribeirão Lavapés, avistou Chicuta e implorou para não ser morta. O pedido foi em vão e foi esquartejada.
Todos os criminosos foram presos, condenados pela Justiça e tiveram destinos similares. Costinha, ao cortar uma árvore, morreu esmagado pela mesma. Chicuta, ao notar defeito em sua carroça, teve a cabeça decepada do corpo após a roda do veículo cair sobre ele. Minigirdo morreu ainda na prisão, vítima de varíola.
A história de Ana Rosa fascina e faz com que a moça seja lembrada por milhares de botucatuenses. Seu jazigo,
no cemitério Portal das Cruzes, é um dos mais visitados. Já o local onde o crime ocorreu recebeu uma cruz. Em 1921, uma capela foi construída ao lado, sendo aberta ao público.
Flávio Fogueral – Jornal Leia Notícia