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“Você é jornalista?”, pergunta um motorista que atravessava a linha férrea no Distrito de Rubião Júnior. “Tem que mostrar essa vergonha aí, tudo destruído e o dinheiro nosso jogado fora”, reclama ainda de dentro do carro, apontando para um cenário que se tornou comum aos botucatuenses nos últimos anos: a degradação do patrimônio ferroviário.
Botucatu foi diretamente afetada pela presença da ferrovia em seu desenvolvimento econômico e urbano. Devido à chegada da Estrada de Ferro Sorocabana, no final do século XIX, o município tornou-se uma potência no interior paulista, ainda mais pela conexão entre o Porto de Santos ao chamado sertão. A segunda estação inaugurada no município foi a de Capão Bonito – que viria a tornar-se o Distrito de Rubião Júnior -, em 1897.
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A privatização do patrimônio ferroviário, na década de 1990, ainda no governo de Mário Covas (PSDB), permitiu que a iniciativa privada adotasse novos rumos para a logística ferroviária. Priorizou o transporte de cargas, extinguiu trens de passageiros e enxugou o patrimônio, reduzindo pontos e estações. Tal medida incluiu Botucatu que, em 1999, viu o fechamento das duas paradas de trens, suas oficinas e a demissão de funcionários.
Pela década seguinte, ambas vivenciaram a depredação do patrimônio, com constantes atos de vandalismo e abandono. A de Rubião Júnior, no entanto, ainda permanecia como patrimônio da então América Latina Logística (ALL), concessionária que assumiu o trecho da chamada Malha Paulista. Hoje, essa gestão é feita pela Rumo Logística. Até 2009 era usada como escala para maquinistas e funcionários da empresa.
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Em 2011, a Prefeitura de Botucatu iniciou o processo de restauração da estação existente na área urbana. A restauração, estimada em mais de R$ 2 milhões, promoveu a recuperação quase completa da estrutura.
Entregue oficialmente cinco anos depois, a Estação Ferroviária de Botucatu tem um novo panorama e voltou a se consagrar como ponto turístico, de cultura e encontro. No entanto, a de Rubião Júnior vive uma antítese e “agoniza” com a forte degradação do patrimônio.
Reformada em sua parte interna há alguns anos, o local já vive a degradação e quase que o esquecimento. Janelas arrombadas e portas arrancadas acompanham o silêncio do total abandono. Na parte interna, o espaço que abrigava móveis de escritório, hoje apenas é visível azulejos e pisos quebrados, além de parte do teto que cedeu.
Na antiga bilheteria e recepção há pichação, madeiramento do banco arrancado, bitucas de cigarro e preservativos espalhados. Não há qualquer tipo de iluminação no local, o que causa preocupação aos moradores do entorno quanto ao uso de entorpecentes e outros atos ilícitos.
Fora do prédio principal da estação, os banheiros estão sem vidros, portas, torneiras e o que sobrou de vasos sanitários estão repletos de fezes, e o forte cheiro impede uma presença maior no interior do espaço. Pelas linhas de trem, vagões de carga e alguns exclusivos para passageiros estão estacionados há anos.
Ao menos três composições destinadas para transporte de combustíveis estão tombadas no complexo. Em outras, colchões, garrafas de bebidas alcoólicas e roupas dão o atual tom representado naquela região. No entorno da estação a existência de mato e lixo é comum e frequente.
A Rumo Logística, por meio de nota oficial, salienta que parte dos vagões é de responsabilidade da empresa e que, “para solucionar o caso, há processos para a desvinculação dos contratos de arrendamentos em tramitação na Agência Nacional de Transportes Terrestres”.
Salienta ainda que, após a possível autorização por parte do governo federal, “permitirá a concessionária dar correta destinação aos bens”. Não explica, porém, se a estação de Rubião Júnior estaria envolvida no processo de desvinculação.
Atribui, ainda, que as invasões e o consumo de entorpecentes se tratam de questões de segurança pública. “Jamais estes fatos poderiam ser atribuídos à operação ferroviária, que segue todas as normas regulamentares. A empresa mantém equipes de vigilância ao longo do trecho ferroviário, mas informa que os seguranças não têm poder de polícia”, frisa a Rumo, na nota enviada à reportagem.
Fonte: Jornal Leia Notícias Por Flávio Fogueral