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Uma das primeiras colônias a ratificar presença em Botucatu, e que mais influenciou na cultura e economia, foi a portuguesa. Desde a criação do município, sua representatividade foi intensa e crucial para o crescimento da Cidade. Algumas marcas perduram até os dias atuais, como o caso do prédio da Caridade Portuguesa, inaugurado em 1906, que, além de papel social, também foi sede da Câmara Municipal, Escola de Farmácia e Odontologia e, mais recentemente, do consulado português na região.
A construção, em estilo neoclássico, preserva algumas de suas características originais, sendo referência arquitetônica. Os adornos internos também são referência, com lustres originais, bem como janelas e vitrais. O saguão de entrada é outra atração pela amplitude de espaço e por concentrar objetos e materiais de origem lusitana. Outro atrativo são as estruturas do edifício centenário, expostas no subsolo.
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Após anos fechado e sofrendo com as ação voraz do tempo, o prédio passa há alguns meses por um minucioso trabalho de restauração. A expectativa é transformar o espaço futuramente em um centro cultural. Desde o ano passado o prédio passa por um processo de intensa restauração arquitetônica para a preservação de sua estrutura original.
O projeto prevê a restauração das características originais das fachadas frontal e lateral. Também está prevista a recuperação do jardim existente para se tornar mais um atrativo. Na parte interna, a equipe de restauradores deverá priorizar a manutenção do piso original, que é em assoalho de madeira. Para isso, uma estrutura em metal foi criada para ser usada de suporte. Também está prevista a total preservação do forro, mantendo os desenhos. Estão previstas a instalação de banheiros com plena acessibilidade e um elevador.
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“Embora o prédio não seja tombado, está em uma região histórica. Tivemos o cuidado para que o projeto atendesse todos os padrões internacionais de restauração, a fim de manter suas características originais”, explica Ludmila Tidei de Lima, uma das responsáveis por desenvolver o projeto de restauração.
Além dela, também são responsáveis pelos trabalhos de restauração o arquiteto botucatuense Paulo Bassetto e a empreiteira Mulotto Construções Civis. Ludmila explica que pela complexidade estrutural, será demandado longo período para a reabertura do espaço. “Desenvolvemos o projeto de reestruturação das paredes do prédio. Tivemos que retirar pisos de madeira e consolidar as paredes, já que o prédio havia sofrido um recalque de fundações. Para consolidar, tivemos que criar uma estrutura em aço e fazer uma laje, para a colocação do piso de madeira. Esse problema foi resolvido, mas alguns danos ocorreram com rachaduras e paredes tortas, além de desnível na escada frontal”, ressalta Ludmila.
Os trabalhos prosseguem ainda sem um prazo final de conclusão, pela complexidade dos trabalhos. Por não ser contemplado por nenhum projeto de fomento, as obras são custeadas pela própria comunidade portuguesa em Botucatu.
Colônia portuguesa foi fundamental para o crescimento botucatuense
A presença lusitana em Botucatu intensifica-se a partir de 1870, sendo pioneiros no comércio, dominando esta atividade nos anos posteriores. São diversas as contribuições que a comunidade portuguesa deixou ao município. Uma das mais significativas, certamente, é a Caridade Portuguesa Maria Pia, inaugurada em 1901 e que compõe o chamado Centro Histórico de Botucatu. A finalidade original do prédio- com projeto de Raul Alves da Rocha- era ser um posto de atendimento aos necessitados, com serviços diversos como a procura de emprego, ofertar alimentos, cuidados médicos e farmacológicos àqueles que não possuíam condições.
O prédio, passou a sediar anos depois, a Escola de Farmácia e Odontologia de Botucatu (a qual encerrou suas atividades na década de 1930). Também sediou a Câmara de Vereadores por alguns anos. Mais recentemente, seu espaço foi importante para colocar o município em destaque no âmbito político: recebeu o vice-consulado de Portugal no interior paulista.
Flávio Fogueral / Jornal Leia Notícias