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Em sua primeira viagem pelo Brasil um mês após retornar do autoexílio nos Estados Unidos, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) visitou nesta segunda-feira à Agrishow, maior feira agrícola do país. Acompanhado do governador de São Paulo Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos), o ex-ministro da Infraestrutura e aliado, Bolsonaro fez acenos a parte do agronegócio, com críticas ao governo federal questionando a demarcação de terras indígenas. O ex-presidente sugeriu ainda que, se Lula atender “10% do que reivindicam” as comunidades indígenas e quilombolas, o agronegócio será prejudicado.
— O agro precisa de políticos que não atrapalhem vocês — disse.
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Mesmo com a cerimônia de abertura cancelada após uma crise ocasionada pela presença do ex-presidente entre a organização da Agrishow e o governo, Bolsonaro driblou a restrição e discursou no evento por cerca de sete minutos.
O público do evento é considerado um de seus redutos mais fiéis. No ano passado, Bolsonaro também marcou presença na feira e teve recepção calorosa. O alinhamento do setor, aliás, foi gancho para uma crise gerada entre a feira e o governo federal na última semana.
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Ao chegar, Bolsonaro se dirigiu a um auditório junto do governador e dos secretárias estaduais da Casa Civil (Arthur Lima), Agricultura (Antônio Junqueira), Fazenda (Samuel Kinoshita) e outros aliados. O ex-presidente normalizou a derrota sofrida contra Lula e afirmou que “política é assim”:
— Política é assim. Muitas vezes acontecem as coisas e a gente tem que considerar como uma página virada. E a vida continua, até Deus nos chamar pra eternidade — declarou Bolsonaro.
‘Cadeia’ para invasores
O ex-presidente fez o discurso no mesmo palco em que o governador assinou a entrega de títulos fundiários no estado. Tarcísio falou em “cadeia” para combater invasores de terra no estado, em meio à ofensiva do MST por regularização fundiária pelo país, e prometeu mais conectividade no campo.
— Não vamos transigir com a segurança jurídica. Vamos proteger a propriedade privada. Não vamos tolerar invasão de terra aqui no nosso estado. Aqueles que invadirem terão um destino só, a cadeia — afirmou Tarcísio.
Depois do anúncio, Bolsonaro e Tarcísio deram uma volta pela feira, causando tumulto, empurra-empurra e arrastando uma multidão junto. Os dois subiram em máquinas agrícolas, ergueram crianças, balançaram a bandeira do Brasil e ouviram o público pedir prisão ao presidente Lula.
Além do governador paulista, Bolsonaro estava acompanhado do ex-ministro do Meio Ambiente e hoje deputado federal Ricardo Salles (PL), seu candidato a disputar a Prefeitura de São Paulo em 2024, além de outros aliados.
Bolsonaro deveria participar da abertura do evento às 9h, mas a cerimônia foi cancelada após a crise gerada com o governo federal. A organização da feira diz que a decisão se deu “em virtude de toda a repercussão gerada pela cerimônia de abertura”, sem maiores explicações.
Irritação de Lula
A ida de Bolsonaro à Agrishow gerou uma crise no governo. Nesta semana, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, afirmou ter sido “desconvidado” após Bolsonaro ter confirmado presença. Na sexta-feira, o governo disse que o Banco do Brasil iria retirar o patrocínio da Agrishow.
Após o anúncio de cancelamento da abertura da Agrishow, o ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência, Paulo Pimenta, declarou que Bolsonaro “continua bagunçando o coreto e atrapalhando o país”.
O Globo apurou que o “desconvite” dos organizadores da Agrishow a Fávaro irritou Lula, que considerou o episódio desrespeitoso. Na avaliação de integrantes do Planalto, a decisão pela retirada do patrocínio do BB foi necessária para demarcar um “limite institucional”, pois não faria sentido um banco público patrocinar um evento que serviria de palco político para Bolsonaro.
Fávaro usaria sua participação na Agrishow para fazer anúncios de linhas de crédito do Plano Safra, o que deve fazer agora em uma reunião que já estava agendada com a FPA amanhã. Interlocutores do ministro afirmam que ele quer aproveitar o encontro para serenar os ânimos, dizendo que o episódio com a Agrishow não irá gerar qualquer retaliação ao produtor rural ou aos fabricantes de máquinas. A mesma postura foi adotada pelo BB, que apesar de cancelar o patrocínio à feira, informou que estará presente por meio de estande comercial para realizações de negócios. De acordo com o banco público, a expectativa é movimentar R$ 1,5 bilhão no evento.
Motociata e jantar com ‘agro’
O ex-presidente desembarcou no início da tarde de domingo em Ribeirão Preto, com um roteiro muito similar aos eventos que marcaram sua candidatura à Presidência em 2018 e 2022 e sua gestão. Bolsonaro foi aguardado por centenas de pessoas nos arredores do aeroporto Estadual Leite Lopes, ouviu gritos dos apoiadores e saiu em comitiva numa motociata. Sem postagens em suas redes próprias, a presença de Bolsonaro foi noticiada por grupos bolsonaristas e perfis de parlamentares aliados do ex-presidente.
Antes de chegar a Ribeirão, o deputado estadual paulista Gil Diniz (PL) publicou um vídeo ontem em que o produtor rural Paulo Junqueira conclama os produtores rurais da região a comparecerem à Agrishow nesta segunda-feira. Junqueira é presidente do Sindicato Rural de Ribeirão Preto e dono do imóvel em Orlando onde o ex-presidente permaneceu durante parte do período nos Estados Unidos.
“Apoio incondicional ao presidente. Amanhã vamos lotar a feira, vamos andar com ele na feira, nos estandes. O produtor rural está fechado com o presidente Jair Messias Bolsonaro”, afirma Junqueira no vídeo.
Ainda na noite deste domingo, o ex-presidente compareceu a um jantar organizado por Junqueira. Lá, Bolsonaro esteve ao lado do ex-ministro do Meio Ambiente e deputado federal Ricardo Salles (PL-SP), além de apoiadores.
Fonte: Extra