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Nesta segunda-feira (1), a rede Mapbiomas publicou seu primeiro mapeamento da Antártida, o único continente desabitado do planeta. A análise de nove anos de imagens de satélite registrou o comportamento do gelo e da flora sob influência das estações, e concluiu que hoje cerca de 107 mil hectares desenvolvem vegetação durante o verão.
A marca da mudança climática já é visível na análise das imagens, afirma Eliana Fonseca, que coordenou o mapeamento. “Análises têm permitido identificar aumento de ocorrência de vegetação em alguns lugares já mapeados. Principalmente nas ilhas localizadas próximas da Península Antártica (ilhas Shetlands do Sul) estão sendo observadas mudanças em função do aumento das temperaturas, que acelera o derretimento do gelo e aumenta as áreas livres de gelo para onde a vegetação pode se expandir”, relata.
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Segundo a pesquisadora, está prevista uma mudança significativa na paisagem da região nos próximos anos, com aumento de vegetação similar ao observado na Groenlândia.
A Antártida é maior que o Brasil, sendo que a área total do continente chega a quase 14 milhões de quilômetros quadrados, enquanto o Brasil tem 8,5 milhões, aproximadamente. É o quarto maior continente do mundo.
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O novo levantamento do MapBiomas usou imagens de satélite obtidas entre 2017 e 2025. “Mapear áreas livres de gelo e cobertas por vegetação é crucial para o monitoramento dos impactos das mudanças do clima no ambiente antártico”, explica Fonseca.
O levantamento mostra que as áreas livres de gelo ocupam 2,4 milhões de hectares, ou menos de 1% da área total da Antártida. Destas áreas, aproximadamente 5% estão cobertas por vegetação, totalizando os pouco mais de 107 mil hectares.
“O nosso mapeamento é inédito por ser o primeiro mapeamento de áreas livres de gelo para todo o continente e o primeiro mapa continental de áreas com vegetação disponibilizado para consultas e download, sendo disponibilizado para além da comunidade científica”, afirma a pesquisadora.
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A vegetação do continente se desenvolve nas áreas livres de gelo que ocorrem principalmente nas ilhas, na região costeira e na Península Antártica, mas também são identificadas no topo das cadeias de montanhas do interior do continente.
“Acompanhar a dinâmica natural do continente antártico também se justifica por sua influência direta sobre o clima do hemisfério sul, atuando como um regulador térmico global e sendo o local de nascimento das frentes frias, que também influenciam a precipitação pluvial no sul do planeta Terra”, completa a cientista.
Os dados estão sendo lançados no aniversário do continente, designado após assinatura de tratado em 1959 que estabeleceu a região como área internacional e de pesquisas científicas, com participação de 58 países.
A vegetação antártica surge apenas no verão, pois a região não tem incidência de radiação solar nos meses de inverno. As áreas livres de gelo só podem ser identificadas no verão, após o derretimento da neve e do gelo acumulados, revelando solo e rochas.
As plantas nascem em grande parte nos terrenos planos onde há acúmulo de água líquida. Com o retorno do inverno, gramíneas, musgos e algas terrestres morrem, ficando apenas os esporos, sementes e estruturas vegetativas que irão brotar novamente no verão seguinte, explica o relatório.
“A questão da incidência solar foi um dos desafios deste mapeamento”, ressalta Fonseca. O fenômeno do “sol da meia-noite”, que ocorre quando o sol circunda o continente, causa sombras feitas pelas cadeias de montanhas existentes no interior, o que dificulta a análise das imagens, afirmou a pesquisadora.
Temperaturas na Antártida
Enquanto nas ilhas antárticas a temperatura máxima mensal média é positiva (entre 1 e 3°C) nos meses de verão, no interior do continente variam entre -15°C e -30°C, e as mínimas entre -20°C e -35°C, com valores negativos durante todos os meses do ano.
A Antártica funciona como um regulador térmico global: a diferença de temperatura entre o continente antártico e os demais continentes do hemisfério sul gera frentes frias que influenciam as circulações atmosféricas e oceânicas e regulam as temperaturas e a precipitação no sul do planeta.
Fonte: Um Só Planeta