14 de dezembro, 2024

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Ativista acredita que onça-pintada foi largada em rodovia com 50 tiros de chumbinho de propósito

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A onça-pintada que foi morta com mais de 50 tiros de chumbinho, no interior de São Paulo, foi achada em um córrego a mais de 10 quilômetros de distância da área onde ela costumava habitar, de acordo com pesquisadores.

O animal, conhecido como “Máscara”, foi encontrado às margens de uma rodovia entre Guapiara e Capão Bonito (SP) e era um dos seis acompanhados por um projeto ambiental feito pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), em parceria com a Fundação Florestal.

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O gestor de uma unidade de conservação da região, Rodrigo José Silva Aguiar, faz parte da equipe do projeto ambiental e acredita que o local onde a onça foi deixada foi escolhido pelos caçadores para que o Máscara fosse encontrado, como uma forma de “recado”.

“Provavelmente isso foi um recado do caçador, tipo: ‘olha, eu matei esse animal e queria que vocês vissem isso’. É muito característico de pessoas que caçam, pelo prazer da caça, que é uma coisa extremamente temível, porque as famílias que estavam tendo predação procuraram a Fundação Florestal para que desenvolvêssemos manejo para evitar predação. Se fosse algo relacionado simplesmente a matar o animal por isso, a gente talvez nem saberia que ele estava morto”, afirma Rodrigo.

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Onça-pintada era monitorada por projeto ambiental na região de Guapiara e Capão Bonito — Foto: Beatriz de Mello Beisiegel/ICMBio
Onça-pintada era monitorada por projeto ambiental na região de Guapiara e Capão Bonito (Foto: Beatriz de Mello Beisiegel/ICMBio)

A coordenadora do projeto, a analista ambiental Beatriz de Mello Beisiegel, concorda com essa possibilidade. Segundo a pesquisadora, o caçador correu até risco de ser visto jogando o animal no córrego.

“A sensação de impunidade tem aumentado tremendamente. O assassino tinha que se livrar do corpo do bicho, mas não precisava ser na beira da rodovia, onde em algum momento alguém iria acabar vendo”, opina.

De acordo com os pesquisadores, acreditava-se inicialmente que a onça-pintada tinha sido morta porque estava atacando criações domésticas.

No entanto, a aposentada Adelita Pereira dos Santos, que mora na região, contou que o Máscara parou de invadir a propriedade dela depois que a equipe do projeto ambiental instalou cercas elétricas e luzes automáticas no sítio.

Moradora disse que onça parou de invadir sítio após ajuda do projeto ambiental na região de Guapiara — Foto: TV TEM/Reprodução
Moradora disse que onça parou de invadir sítio após ajuda do projeto ambiental na região de Guapiara (Foto: TV TEM/Reprodução)

“A gente sempre tem esse trabalho de ir nas propriedades, conversar com as pessoas, orientar o manejo correto. Temos parcerias com universidades e com outros institutos”, explica Rodrigo.

“Depois que colocaram o choque, ela não apareceu mais. Sempre eles perguntavam, mas eu falava que nunca mais apareceu, e agora a bichinha apareceu morta”, lamenta Adelita.

Conforme o projeto ambiental, o Máscara estava caçando presas “mais fáceis”, nas propriedades rurais, porque estava com um ferimento na pata direita e andava mancando, conforme observado através das “armadilhas fotográficas”, as câmeras escondidas na mata.

Por causa disso, os pesquisadores estavam programando uma captura para tratar o animal, mas ele foi morto no dia de aprovação dos orçamentos para o resgate.https://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

Durante entrevista, Rodrigo também comentou sobre a foto tirada pela Fundação Florestal, de uma borboleta que pousou na pata da onça-pintada. A imagem comoveu os pesquisadores.

“Foi uma imagem muito marcante porque é um animal de topo de cadeia, que simboliza o sucesso da conservação ambiental. Nós estamos em uma das únicas regiões viáveis a longo prazo para a sobrevivência da onça-pintada. Quando a gente vê um caso desses, para nós é um misto de insucesso de que o nosso trabalho não está sendo bem feito, e assim abate bastante. Aí você encontra um detalhe de uma borboleta pousada na pata, isso mexe com a gente, é marcante mesmo.”

Prejuízo ambiental

Segundo os pesquisadores do projeto, que pretende refazer a estimativa populacional das onças no Contínuo do Paranapiacaba, o Máscara era fundamental para a sobrevivência da espécie na região. A área é uma das três últimas onde existem populações de onças que ainda podem sobreviver por um longo período.

A onça foi encontrada morta no dia 5 de julho às margens da Rodovia Penteado de Camargo (SP-250). A suspeita é de que ela tenha sido morta na área rural e transportada de veículo até a ponte na rodovia, de onde foi jogada para o córrego.

Onça foi encontrada morta em um córrego na divisa entre Guapiara e Capão Bonito — Foto: Fundação Florestal/Divulgação
Onça foi encontrada morta em um córrego na divisa entre Guapiara e Capão Bonito (Foto: Fundação Florestal/Divulgação)

Os pesquisadores contaram também que Máscara viveu por pelo menos oito anos antes de ser morto, e a necropsia apontou que ele era um animal saudável, exceto pelos tiros e suas consequências.

A Polícia Federal foi acionada depois da morte da onça-pintada e vai investigar o crime ambiental. Segundo a PF, um inquérito policial foi instaurado para apurar a situação e as investigações estão em andamento.

Onça-pintada foi flagrada mancando por câmera em mata na região de Guapiara — Foto: Laura Trujillo e Luís Palácios/Arquivo pessoal
Onça-pintada foi flagrada mancando por câmera em mata na região de Guapiara (Foto: Laura Trujillo e Luís Palácios/Arquivo pessoal)

O crime de matar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória sem permissão tem pena de detenção de seis meses a um ano, e multa. No entanto, a PF informou que essa pena pode ser aumentada caso o crime praticado seja conta uma espécie rara ou considerada ameaçada de extinção, que é o caso da onça-pintada.

Em nota, a Fundação Florestal, que é o órgão do estado de São Paulo responsável pelo gerenciamento das Áreas Protegidas Estaduais, informou que todas as áreas têm programas de fiscalização ambiental que fazem intermediação com moradores rurais com problemas de predação de animais domésticos.

Segundo o órgão, a orientação é que as equipes locais das Áreas Protegidas sejam procuradas o mais cedo possível quando detectado esse tipo de problema. “O diálogo certamente evita assassinatos desnecessários como esse”, opina a fundação.

Fonte: G1 – Foto: Fundação Florestal/Divulgação

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