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O assassinato de um vendedor nigeriano em plena luz do dia em uma cidade italiana comoveu o país e provocou reações até mesmo da extrema direita, normalmente crítica da imigração e dos imigrantes, em especial da África.
Como mostram as imagens de câmeras de segurança, o assassino, Filippo Claudio Ferlazzo, pegou a muleta que Alika Ogorchukwu usava para caminhar e o espancou até a morte, na cidade de Civitanova Marche, na região central da Itália, na sexta-feira. A indiferença das pessoas que passavam pelo local e nada fizeram, mesmo diante das agressões, também provocou indignação. Todo o incidente durou cerca de quatro minutos.
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Em entrevista no sábado, o porta-voz da polícia local, Matteo Luconi, disse que não há, até o momento, elementos que apontem para um crime de racismo, e as investigações iniciais revelam que as agressões teriam sido motivadas por um pedido de esmola de Ogorchukwu. Ele vivia no país com sua mulher há mais de 10 anos e tinha um filho de oito anos.
— Agora ela está sozinha com um filho, você pode imaginar o quão difícil isso será — afirmou o advogado que presta assistência à família, Francesco Mantella, ao New York Times.
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Ferlazzo, que foi preso no sábado, disse inicialmente no depoimento que agrediu o homem porque ele teria feito comentários “inadequados” sobre a mulher que o acompanhava. Posteriormente, reconheceu que o ataque de ódio foi motivado por um pedido considerado “insistente” de esmola. Além do crime de homicídio, ele foi indiciado pelo roubo do celular de Ogorchukwu. A advogada de Ferlazzo alega que ele tem “problemas psiquiátricos”.
Logo depois da confirmação do assassinato, as reações começaram a surgir de todo o país. Em Civitanova Marche e em Ancona, na mesma região, centenas de imigrantes nigerianos fizeram um protesto e afirmaram serem vítimas de racismo.
— Queremos justiça. Basta de racismo contra os negros — disse um dos manifestantes, citado pelo El País. — Nós fazemos os trabalhos que os italianos não querem fazer.
Também houve reações de representantes de todos os campos políticos.
— O assassinato de Alika Ogorchukwu é chocante. A ferocidade, a indiferença. Não há justificativas, tampouco basta o silêncio. O último ultraje a Alika seria passar essa página e esquecer — declarou o líder do Partido Democrático, de centro-esquerda, Enrico Letta.
Antonio Tajani, coordenador nacional do Força Itália, de direita e ligado ao bilionário Silvio Berlusconi, se disse “entristecido” com o incidente, e sinalizou que as autoridades locais estudam meios para se juntarem à acusação quando o assassino for julgado.
Mesmo a extrema direita, normalmente contrária aos imigrantes e à imigração, se juntou ao coro de críticas e pedidos de justiça.
— Além de expressar as minhas mais profundas condolências à família de Alika, é necessário reiterar a firme condenação de um ato de violência insana e sem precedentes, que não tem justificativa e fere toda a região de Marche — declarou Francesco Acquaroli, chefe da região de Marche e filiado ao Irmãos da Itália, sigla de extrema direita, citado pelo Guardian.
Matteo Salvini, líder do Liga, também de extrema direita, condenou o ato e disse esperar que Ferlazzo “receba a maior pena possível”.
O ataque ocorre a menos de dois meses das eleições gerais na Itália, e as pesquisas mostram que a direita, aliada à extrema direita, tem grandes chances de chegar o poder. As declarações rápidas e contundentes ressaltam o temor de que o assassinato respingue na campanha.
Em 2018, um radical de extrema direita, Luca Traini, feriu seis imigrantes vindos de países da África na cidade de Macerata, semanas antes de eleições que tinham a imigração como tema central de siglas de direita. Um dia depois da votação daquele ano, Idy Diene, um senegalês que vivia na Itália desde os anos 1990, foi baleado seis vezes e morreu em uma ponte de Florença. À polícia, o assassino, Roberto Pirrone, disse que tinha ido ao local para cometer suicídio, mas ao perceber que não tinha coragem para puxar o gatilho, atirou na primeira pessoa que viu pela frente. No caso, era Idy Diene.
Fonte: Yahoo!