16 abril, 2024

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Artigos: Antroposofia no Direito – Por Luiz Gustavo Branco

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“- Que tipo de advogado o senhor é?

– Antroposófico!”

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É censo comum que a função precípua do advogado é ser a voz do cliente junto ao juiz, para que os fatos sejam relatados e o direito, acertado, aplicado. Na realidade, o ofício mais humano dos advogados é ouvir os clientes, ou seja, dar certo alívio e tranquilidade àquele que busca encontrar nesse mundo um confidente de suas inquietudes.

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O cliente, ao sair de um atendimento em que teve a liberdade de contar a história que presenciou e, até mesmo, indicar um resultado que lhe aprouvesse, sente-se, inevitavelmente, mais leve, eis que conseguiu dividir sua angústia com o advogado, que pacientemente o atendeu, tomou nota dos relatos e sugeriu um caminho a ser tomado.

Ouvir e entender as angústias do cliente é uma tarefa que não faz parte de qualquer disciplina ensinada nos bancos acadêmicos.

A cada início de atendimento, advogados esperam ouvir relatos já conhecidos para entoar diagnósticos fáceis e cobrar os devidos honorários, uma vez que, desde que o mundo é mundo, as desventuras humanas são as mesmas.

O tempo me permitiu, todavia, entender que cada caso contado possui uma fisionomia própria, onde se torna possível perceber relatos omitidos ou fatos engrossados. É possível descobrir a cicatriz intocável do cliente e abordar o fato com respeito, tratando o caso como único, dando o valor que ele merece e o cliente almeja.

Cuidar das pessoas e não dos processos e olhar nos olhos enquanto os casos são contados, são exemplos de atitudes simples que colidem com o contemporâneo dinamismo do mundo profissional e o acelerado, competitivo e intransigente mercado de trabalho.

A advocacia não será uma profissão ultrapassada, apesar das ameaças da inteligência artificial, onde robôs são preparados para redigir petições, pesquisar decisões pretéritas e indicar melhores soluções.

Milhares de bacharéis são jogados todos os anos das mais de 1.500 faculdades de Direito que há no Brasil, daí a necessidade de oferecer a diferença e permanecer vivo fazendo o que se gosta: advogando.

A antroposofia nada mais é, em sua mais simples definição, do que “o conhecimento do ser humano”, uma filosofia implementada no início do século XX pelo austríaco Rudolf Steiner.

Dentre as diversas áreas de aplicação, é na educação, através da pedagogia Waldorf, que se fez conhecida no Brasil. Entretanto, em muitas outras atividades, profissionais estão aplicando os conceitos antroposóficos, buscando respostas outras que não as simplesmente materialistas, fazendo da profissão, a verdadeira missão.

Na medicina antroposófica, exemplificando, procura-se entender o doente, e não apenas a doença, afinal, se existe a doença é porque o organismo se desorganizou.

No Direito, para a correta aplicação da antroposofia, faz-se necessário entender o cliente, ouvi-lo e compreendê-lo de verdade; tratar bem e atuar com dedicação, como se a causa fosse única ou a mais importante, porque para o cliente, de fato, o é.

Saber a idade do cliente, seu estado civil, como está a vida familiar, faz parte de uma necessária anamnese relegada pelos profissionais do Direito, mas que poderia possibilitar um melhor diagnóstico ao problema apresentado.

Essa prática permitiria ao cliente revisitar sua vida num autoconhecimento, dando-lhe a possibilidade, em seguida, de amenizar sua litigiosidade e, em muitas das vezes, evitar um desnecessário conflito.

Por óbvio, há situações tão objetivas e clarividentes que demandam uma única solução. Ainda assim, o cliente merece ser ouvido, apresentar a sua justificativa e os seus anseios.

Claro que o resultado favorável no processo é importante, assim como o destino da viagem ou a vitória numa guerra. Mas não menos importante é a própria viagem, a forma com que se vive a vida ou o companheiro de trincheira.

Enquanto alguns advogados buscam nas leis razões para permitir que seus clientes violem a moral, o advogado antroposófico busca na moral razões para impedir seus clientes de fazerem o que as leis até permitem.

 

Luiz Gustavo Branco é advogado especialista em Direito Material e Processual do Trabalho, com atuação preponderante no Direito Sindical.

 

 

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