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Aos poucos vejo a rotina do HC voltando, após as festas de final do ano. Interessante como nossa vida é feita por ciclos que se repetem enquanto o tempo passa. A vida do HC também é assim, embora a rotina seja sempre a de um hospital lotado.
Também aos poucos o corpo clínico se recompõe, as férias terminam para muitos e o alivio chega para os que ficaram, que passam a dividir a rotina da demanda em mais mãos. Mas as urgências continuam, muitos sobrevivendo e alguns nos deixando, como sempre foi e será.
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Os alunos chegam confiantes, animados após curto período de descanso, ocupam seus estágios e vão crescendo como pessoas que amadurecem, gerando dentro de si um novo médico que vai nascer em poucos anos e ocupar seu lugar de menino. Espero que estes médicos-meninos sejam bons profissionais e boas pessoas e que saibam ouvir. Que acreditem em Deus, mas que não acreditem que sejam Deus.
E os médicos residentes que logo nos deixarão iniciam o processo de troca de roupa. Vão deixando o velho jaleco cheio de trabalho, cansaço e aprendizado para vestirem a roupa branca que a cada mês vai ficando mais cara, com marcas famosas em suas etiquetas. Seguros, bem preparados, mas ainda frágeis, cheios de dúvidas e incertezas. E os dias seguintes vão trazer a maturidade e a certeza de que quanto mais viverem menos saberão sobre a vida, de tão complexa que ela é. E então suas roupas, mesmo brancas, milagrosamente serão menos caras.
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Os novos médicos residentes também chegam, na mesma proporção que os que aqui estavam vão partindo. Troca de guarda, troca de equipe, e as doenças se renovando a cada momento, surpreendendo muitos e levando todos a um trabalho coletivo para salvar vidas com qualidade. Vida de todos e não de alguns.
E o HC continuando sólido, sustentado por suas paredes de mais de 60 anos, cheios de impressões digitais das milhares de mãos que por aqui passaram e cujos donos retornam, agradecidos, cheios de boas lembranças e saudades.
Fico observando estas cenas, que se repetem a cada ano, envolto no trabalho duro de dirigir este gigante que não dorme e nem pode descansar. E lembro de algumas cenas que vi ao assistir o lindo show de encerramento da turnê Clube da Esquina, ao lado de uma milhares de pessoas, muitas delas em prantos, emocionadas ao ouvirem Maria Rita e o velho Milton Nascimento cantando … é a vida deste meu lugar…
**Dr André Balbi é médico nefrologista, professor associado de Nefrologia da Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB) e atual Superintendente do HCFMB.
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