28 de dezembro, 2024

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Artigo: Quarto 101 – Por Lourival Panhozzi

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Esta semana foi diferente. Com um irmão hospitalizado a 10 dias no quarto de número 101. As visitas, que lá adentraram, se recordaram de, naquele mesmo espaço, terem perdido alguém. Contaram com naturalidade os momentos finais, deram contornos e cores a realidade, fazendo o enfermo do momento ver o brilho do querer viver.

Percebi que onde se morre e onde se vive é o mesmo lugar, no tempo e no espaço. Caminhamos no intervalo destas dimensões, desatentos quando saudáveis, temerosos na enfermidade.

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Meu irmão é parte de mim, dentre todos os familiares, somente irmãos tem o mesmo sangue. Quero meu irmão ao meu lado sempre, mesmo quando a “indesejada das gentes” chegar, para um ou para o outro.

Aqui, na sala de espera do centro cirúrgico, ao lado de faces desconhecidas e sentimentos iguais, aguardo… em silêncio. Observo de tempo em tempo o levantar olímpico de cada pessoa, quando um médico chega na porta e chama por um acompanhante para informar sobre o desfecho de uma cirurgia. A vida em um segundo. Histórias que findam, se renovam ou simplesmente continuam.

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Hospital, velório, cemitério. Não existe melhor lugar para se encontrar consigo mesmo. Hoje achei um pedaço do que sou, no enredo de muitas histórias.

Busco, todos os dias, ver na rotina banal o brilho das realizações infinitíssimas, enquanto meu corpo é ainda corpo e meu pensamento é livre.

Das minhas escolhas faço, no silêncio da noite, uma reflexão. Ela me corta e faz a alma sangrar recordação. Me vejo do outro lado do muro, hora só partes, hora inteiro.

Convertido não quero ser a nenhuma crença pronta. Busco é a luz do conhecimento, não o poder de afirmar, estar certo. Enquanto aprendiz, escolho meus caminhos e nenhuma cripta me detém.

Quando trasmundano for, espero te reencontrar e poder te dizer, meu irmão, que meu tempo a seu lado foi sempre iluminado.

Enquanto lá não chego, busco viver em paz com Deus e com meu vizinho, para assim, como ensina Zaratustra, ter um bom sono, mesmo quando sozinho.

Os sábios ensinaram que: “Aquele que revisou seu aprendizado 101 vezes, vale, incomparavelmente, mais que aquele que o fez apenas 100”.

Esta é a lição que levo do quarto 101.

 

* Lourival Panhozzi é empresário, Diretor Funerário – Pres. Abredif/Sefesp -, Diretor do CTAF, Sistema Prever e Solucard.

 

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