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Este comentário não tem nada a ver com resultados dos jogos disputados na Copa. Fala simplesmente de emoções e sentimentos, com a oportuna ajuda da filha Telma.
A cena dos torcedores da seleção japonesa recolhendo voluntariamente o lixo deixado no estádio de futebol foi emocionante, talvez mais que o próprio jogo que não vi.
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Destaco este e outros fatos contrastantes nos dias de hoje com outra história vivida no Japão por um famoso professor de música suíço, que, antes, vivera 29 anos no Brasil. Tive oportunidade de conhecê-lo pessoalmente.
Professor Sebastien Benda ( 1926 – 2003 ) viajava constantemente, apresentando-se como pianista e professor renomado. Certa ocasião foi convidado a dar aula de música no Japão a um grupo selecionado de pianistas diferenciados na arte. Seus alunos nipônicos eram muito atenciosos e respeitosos.
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Num dia chuvoso, aguardava em casa a chegada de aluno para determinada hora iniciar aula ao piano. Sua surpresa foi olhar pela janela de seu apartamento e ver o jovem que chegara antes do horário marcado. Ele estava no jardim, parado em frente à porta da casa, na chuva, aguardando o horário exato para só então apertar a campainha do apartamento do professor. Aquela visão emocionou-o. Era a expressão do extremo respeito aos professores, traço cultural admirável daquele povo.
A aula programada foi mais brilhante ainda e o aluno demonstrou tanta sensibilidade que o professor entendeu estar diante de discípulo com extrema percepção musical. Ambos estavam trabalhando sentimentos e emoções. Conversaram sobre o assunto.
Concluíram que “Arte é puro sentimento”, como afirmara o francês Auguste Rodin ( 1840 – 1917 ) . E que emoções, por outro lado, dependem do cérebro e do seu treinamento. Estavam, assim, diante de uma dualidade interessante que só agora, em 2018, foi exposta por Antonio Damasio em seu livro recente lançado no Brasil ( ‘A estranha ordem das coisas’- Companhia das Letras, 2018 ).
Com este relato, recordado pela minha filha Telma, ex-aluna de Benda na Suíça, dá para entender a atitude dos japoneses naquele estádio após a partida de futebol nesta Copa.
Aqueles torcedores no estádio estavam expondo a força da emoção ( quando a alma é educada pela cultura dos sentimentos ) diante da emoção da força ( a manifestação esportiva vivenciada na competição ). Música e esportes são, portanto, canais de expressão da alma humana.
Cá entre nós, dá para deduzir que a Copa também ensina alguns segredos da vida.
Alguém discorda?
* Dr. Francisco Habermann é ex alunoda 1ª. Turma de Medicinada FCMBB, docente aposentado da atual FMB-UNESP. Professor da Faculdade de Medicina da Unesp de Botucatu
* Texto com colaboração de Telma Habermann.