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Estou participando, parcialmente e no tempo dos dias que os dias permitem, do Congresso Paulista de Nefrologia, especialidade médica que já exerço há quase 30 anos e que se incorporou em mim como uma característica física própria. E nestes dias de idas e vindas, em que precisamos dividir o tempo em fatias mais ou menos gordas entre um local, a estrada e outro, fico pensando no momento em que estamos vivendo. Questionamentos e necessidade de comprovações vindas de todos os lados fazem nossa cabeça girar em velocidade proibida por lei e um imenso ponto de interrogação se instala a nossa frente a cada momento, nos fazendo pensar em qual será e quando teremos o próximo desafio.
Médicos gestores de equipamentos públicos de saúde e médicos organizadores de eventos científicos como este que estou participando tem características comuns. Acreditamos no que estamos fazendo, apesar das imensas dificuldades que enfrentamos. Conversando com amigos também nefrologistas e organizadores deste evento, percebo as semelhanças nas dificuldades que eles relatam. É como lutar a cada dia contra um dragão diferente, que solta fogo pelos olhos e muda de cor a cada momento.
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Penso que, para enfrentarmos qualquer dragão precisamos de um grupo que saiba trabalhar em conjunto. É como se estivéssemos jogando o jogo da forca onde o dragão nos coloca as palavras que precisamos descobrir a partir da quantidade de letras que elas possuem e a equipe pensa junto, usando a habilidade de alguns, o conhecimento de outros e a capacidade de síntese de vários. Mas nem sempre isto acontece. Talvez nossa incapacidade de transformar o individual no coletivo nos leva a discordar das palavras que o dragão nos apresenta no jogo que nos propõe. Daí a derrota torna-se inevitável.
Na complexa gestão de um HC como o nosso, onde gestores e médicos se confundem e se completam a todo momento, é preciso extrair de cada colaborador a vontade de vencer o dragão. Pena que nem sempre conseguimos.
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Mas o que nos move para sermos gestores, organizadores de congressos, médicos para todos, enfrentadores de acusações muitas vezes injustas e respondedores de pareceres que nos colocam em situações incômodas? Não tenho a resposta mas acredito que ela esteja dentro de nós mesmos. Somos inconformados.
E de tão inconformados que somos, acabamos mantendo nossa capacidade de transformar a opinião contrária em argumento favorável, de acharmos as respostas adequadas aos que nos questionam e, de modo lento e consolidado, juntar os pedaços soltos da gestão e movê-los de forma a construir um painel único capaz de vencer os dragões de cores diferentes e olhos de fogo que nos ameaçam.
** Dr André Balbi é médico nefrologista, professor associado de Nefrologia da Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB) e atual Superintendente do HCFMB