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Com frequência quase que diária me perguntam se estou bem ou recomendam que eu descanse mais. Passadas 10 semanas vividas com o COVID-19 por perto, impossível não estar cansado. Estamos todos no limite do limite do limite e ainda não saímos do olho do furacão. Apesar desta situação nos trazer experiência e amadurecimento extremos, a impossibilidade de realizar um planejamento adequado e a preocupação constante sobre o que pode acontecer nas próximas horas nos remete àquelas lutas recorrentes em que somos obrigados a vencer. Quem trabalha em um hospital como o nosso sabe o que é todo dia precisar vencer.
Difícil achar uma saída quando nos sentimos presos por grades, invisíveis e inexistentes aos nossos olhos mas fortes e capazes de nos imobilizarem. Esta semana, em um único dia, morreram mais de mil brasileiros vitimados pelo COVID-19 e o Brasil continua batendo recordes negativos a cada dia. Temos visto coisas nunca antes imaginadas como feriados desproporcionalmente antecipados na cidade de São Paulo. O dia seguinte sempre é uma incógnita.
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Essa pandemia está nos mostrando o quanto não somos donos de nossas vidas e, portanto, o quanto dependemos uns dos outros, por mais que seja difícil admitir esta situação. Precisamos continuar trabalhando com calma e manter o foco, apesar das dificuldades adicionais criadas por alguns colegas altamente condecorados pela universidade e que insistem em pensar individualmente nesta hora coletiva. Difícil acreditar que nesse momento tão crucial pelo qual passamos, refletido desde em nosso país até em nosso HC, existem pessoas que colocam seus interesses menores em primeiro lugar.
Ainda bem que o solo é fértil e podemos contar com cabeças iluminadas que brotam perto de nós. É nosso dever reconhecê-las e estimular seu crescimento e amadurecimento. E ficarmos atentos para que o desânimo não nos contamine e nem se difunda rapidamente tal qual este vírus maldito continua a fazer. Porque, se o COVID-19 é capaz de provocar um colapso no sistema de saúde de uma grande cidade, o desânimo pode provocar um imenso colapso emocional.
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*Dr André Balbi é médico nefrologista, professor associado de Nefrologia da Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB) e atual Superintendente do HCFMB.