24 de novembro, 2024

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Artigo: Conjugando o verbo envelhecer – Por Dr. André Balbi

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Minha mãe fez 90 anos neste mês de julho, em um domingo dividido pela atenção com a Copa do Mundo. Foi um dia emocionante para todos nós que a conhecemos tão bem do seu jeito. Um almoço surpresa de ami­gos e parentes marcou o dia. Não sei o quanto ela entendeu daquilo tudo, mas nas vezes em que não parecia perdida como uma criança em  sua primeira festa, parecia contente com sua própria festa.

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Fico pensando no en­velhecer. Verbo que con­jugamos todos os dias, desde que nascemos. En­velhecemos ao iniciar nos­sa infância, ao tornarmos jovens e quando começa­mos, de fato a envelhecer segundo o que entende­mos por isto. Aos poucos, vamos notando algumas mudanças em nosso cor­po e nosso jeito.

Ficamos mais toleran­tes? Acho que sim. Tam­bém mais emocionados. Parece que o tempo aju­da a destravar o canal das lágrimas e os olhos não mais resistem a elas. Por algum tempo nosso racio­cínio fica mais lento mas não menos exato. Até que ele começa a se perder. Precisamos de ajuda para andar, mas nossa cabeça nos leva a acreditar que podemos subir escadas que invariavelmente nos levam ao chão.

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Envelhecer é como guardar fotos em álbuns datados, acomodados nas gavetas de nossa memória e poder revivê-las sempre que a vontade chegar. Vi­ver um fato que acontece hoje lembrando que ele já aconteceu muitas ou­tras vezes antes. O tempo passa a se perder não mais no calendário de nossas agendas, mas nas nossas lembranças. De rápidos e ágeis nos tornamos mais lentos e comedidos. Mas mais sabidos,

Penso que, conforme envelhecemos, vamos ­dei­xando marcas em nosso corpo e na nossa men­te. Marcas de vitórias e derrotas que nos deixam sempre com saldo posi­tivo. Não há envelhecer sem marcas da vida no corpo.

Acho que envelhecer é ir embora para Pasár­gada como Manoel Ban­deira fez em seu poema. Não para tornar-se ami­go do rei, mas para viver uma grande ilusão. A ilu­são de que nunca enve­lheceremos.

*Dr André Balbi é médico nefrologista, professor adjunto de Nefrologia da Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB) e atual Superintendente do HCFMB.

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