16 de novembro, 2024

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Artigo: Avós e filhos – Por André Balbi

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Em um encontro ima­ginado por mim e que nunca acontecerá, mas que já aconteceu, vejo meu pai sentado em sua cadeira preferida, bigode aparado com cuidado por ele mes­mo, o jeito calmo de olhar, mais observando que falando, envolvido pelos meus dois filhos, agora homens que são, refazendo a mesma cena que vi há muitos anos, quando meu pai ainda vivia e meus fi­lhos eram crianças.

O que poderiam estar falando naquele momen­to? Talvez respondessem às perguntas do avô que­rido, ouvidos atentos e respostas inesperadas. Mas agora meu pai, inte­ressado como sempre foi ao que os netos faziam, certamente estaria per­guntando sobre eles.

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Henrique, quieto e ob­servador como ele, fala­ria dos planos com sua Keryma que o avô não conheceu, das aulas de literatura que deve estar encantando vários jovens que o assistem, mostraria seus textos que exibem toda sua cultura de um jeito agudo e exuberan­te. Henrique tem muitos livros como meu pai tam­bém tinha. E tenho certe­za de que ele entenderia tudo o que o Henrique escreve hoje.

Guilherme, contesta­dor e carinhoso como ele, falaria de suas dúvidas profissionais que surgem na medida que o tempo o aproxima de seu diploma de advogado. Contaria sobre a tradicional “São Francisco” e como será sua formatura em poucos meses.

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E meu pai, orgulhoso, o ouviria com atenção. Guilherme falaria de sua Giovana que o avô tam­bém não conheceu antes de discordarem sobre po­lítica e políticos e concor­darem sobre o São Paulo, time de futebol preferido por ambos.

Este encontro imagi­nado por mim existiu de verdade e está guardado para sempre em minha memória, com meu pai ainda vivo e meus filhos ainda meninos.

Eram outros assuntos, como o jogo de damas nos quais meu pai cuidadosa­mente sempre perdia, o fusca velho e desbotado que os três gostavam de passear pela cidade por caminhos que o avô in­sistia em errar e o cigarro sempre aceso entre seus dedos e que o impediu de conhecer Keryma e Giovana muito anos depois.

Nestas cenas que tra­go em minha memória e em minha imaginação nunca estou presente.

Mas sei que sou um pouco de cada um de­les, como se fosse a mistura improvável destas duas gerações. E lamento não poder mais uni-las diante de mim. E lamento não po­der viver isto tudo de novo.

Neste domingo espe­ro um feliz dia dos pais… avós e netos para todos.

Dr André Balbi é médico nefrologista, professor associado de Nefrologia da Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB) e atual Superintendente do HCFMB.

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