Anúncios
A espera do próximo traz um misto de ansiedade e expectativa. Quanto antes o próximo chegar, mais cedo ocorre o esperado. Ou pode não ocorrer. E esta dúvida do que pode acontecer quando o próximo chegar alimenta a ansiedade da espera.
Aguardar a chegada do próximo é arrumar o quarto desfeito de nossa memória, empilhar as louças lavadas de nosso cotidiano e colocar as roupas das gavetas em ordem. Ordem para partir ou ficar. E se ficar, guardar no bolso algo importante para mostrar quando o próximo, certamente, voltar.
Anúncios
Escrevo isto pensando no show que assisti há alguns dias, com as músicas do chamado “Clube da esquina”, grupo de amigos mineiros surgidos na década de 70 que teve como seus líderes Milton Nascimento e Lô Borges. Deste grupo surgiram inúmeros compositores talentosos e dezenas de discos antológicos. Dentre estes, os chamados “Clubes da esquina I e II” e, mais de 40 anos depois, o show atual com o mesmo nome. É como se o próximo chegasse vindo do passado mostrando não seu rosto antigo, mas sua cara atual. E assistir Milton Nascimento cantando, sentado por sua condição física debilitada, mas com a voz corajosa de sempre, me dá certeza que o próximo pode ser aquele que já chegou.
Penso no que pode ter acontecido nestes 40 anos que separam os discos que tanto ouvi e este show que acabei de assistir. Penso nas pessoas e seus destinos, levados pelos ventos que podem ser fortes em uma única direção ou leves de modo a desarrumar apenas os obstáculos mais frágeis.
Anúncios
E vendo a vida, as pessoas e o mundo mudarem, vamos mexendo e remexendo a mala empoeirada do passado e comprando o destino no futuro.
* Dedicado ao próximo texto que devo escrever e que será o 100º publicado neste espaço.
**Dr André Balbi é médico nefrologista, professor associado de Nefrologia da Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB) e atual Superintendente do HCFMB.