Anúncios
Ninguém me ajudou”, foi o que disse uma mulher atacada com ejaculação num trem na cidade de São Paulo. A notícia foi do sítio eletrônico UOL, do dia 23/02/2019.
Mesmo estarrecido com a matéria, uma daquelas que nos fazem refletir sobre a vida, sobre o próximo, sobre o se importar, de verdade, com a pessoa desconhecida (que é o nosso semelhante), senti-me na obrigação de ler todo o seu conteúdo.
Anúncios
Um homem que se masturbava num trem lotado, sem que qualquer outro cidadão fizesse algo, importunou de morte uma mulher, e apenas foi preso ao descer em sua estação, pelos seguranças locais.
Não vou pedir para que vocês, leitores, imaginem a cena (porque isso já ocorreu, certamente), mas peço para que se coloquem na mesma situação dessa mulher, humilhada, constrangida, morrendo por assim dizer na frente de todos, exposta a todos os riscos possíveis de doenças do corpo e da alma, sem que ninguém lhe desse uma salvaguarda.
Anúncios
Que há pessoas com distúrbios ou com sentimentos de maldade dolosa, ninguém duvida e isso nem nos causa mais estranheza. É como o andarilho que pede comida e insistimos em dizer que hoje não tem nada, mesmo com o prato feito à mesa.
Talvez essa mulher, uma dentre tantas outras que voltava para casa após mais um dia de trabalho, fosse apenas a invisível andarilha sem rumo. Não por sua culpa, claro, mas porque isso está se enraizando cada vez mais nas ações do nosso povo. Ora, que se danem os outros!
Apenas teremos um bom país e seremos um bom povo quando resolvermos, de verdade, de forma altruísta, a se importar com as demais pessoas. É a caridade (amor) bíblica que os países nórdicos praticam mesmo sendo pagãos em sua maioria, e que os fazem os melhores países do mundo em todos os aspectos.
Enquanto nossa evolução não chega, precisamos de mais leis para impor limites às nossas ações.
E foi justamente por conta dos assédios sofridos por mulheres em trens e ônibus, que foi sancionada em 2018 a Lei 13.718, que tipifica o crime de importunação sexual, com pena de prisão de 1 a 5 anos.
O projeto de lei foi de autoria da Senadora Vanessa Grazziotin, do Partido Comunista do Brasil, e caracterizou o crime de importunação sexual como sendo aquele decorrente da realização de ato libidinoso na presença de alguém e sem sua anuência.
Roubar beijo e apalpar partes íntimas são dois exemplos que podem parecer banais, ainda mais em período de carnaval. Entretanto, assim como o crime sofrido pela mulher que foi ejaculada no trem, esse tipo de assédio passou a ser uma das maiores causas de afastamento pelo INSS para a percepção de benefícios por doença.
O mal que essa prática criminosa causa é tão grande que coloca em risco a base familiar, o emprego, a convivência social, a própria economia, porque é causa de afastamento do trabalho, de prejuízo às empresas, de uma menor arrecadação tributária, etc.
Mas o mal maior é o que causa à dignidade das pessoas ofendidas, em sua maioria, mulheres. A ofensa fica gravada em pedra, sem cura.
A melhor forma de evitar que isso ocorra é com informação e denunciando esses criminosos disfarçados de bons moços, que levantam a bandeira que no carnaval tudo pode. Não, não pode nem no carnaval, nem em qualquer época.
Luiz Gustavo Branco é advogado especialista em Direito Material e Processual do Trabalho, com atuação preponderante no Direito Sindical.
* Os artigos publicados não refletem, necessariamente, a opinião do Jornal Leia Notícias.