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Quatro dias após a morte da paraquedista Bruna Ploner, a Polícia Civil de Boituva, no interior de São Paulo, fez uma representação judicial pedindo a suspensão de todas as atividades de salto até que seja providenciada uma UTI móvel no centro de paraquedismo da cidade.
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Paraquedista morre após salto em Boituva
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A representação pela medida cautelar foi feita nesta quinta-feira (28), e o Tribunal de Justiça afirmou que espera a manifestação do Ministério Público para analisar o pedido da Polícia Civil. A Promotoria recebeu os autos nesta sexta-feira (29).
A paraquedista Bruna Ploner, de 33 anos, era sargento do Exército Brasileiro e morreu no domingo (24) depois de um salto realizado no Centro Nacional de Paraquedismo (CNP).
As causas do acidente estão sendo investigadas pela Polícia Civil, que afirmou ser “inconcebível” que o centro “não possua, no mínimo, uma UTI móvel com um médico e enfermeiro especialista em socorrismo”.
“Já que nós temos tantos paraquedistas, tanta gente que usa o centro, já que é um dos maiores do mundo, então nós entendemos que poderia ser melhorada a estrutura. E na nossa visão, uma das formas de melhorar a estrutura é a contratação de uma UTI móvel para que um médico esteja lá para atender um eventual erro”, afirma o delegado Emerson Jesus Martins.
O CNP é um espaço com 99 mil metros quadrados que promove aproximadamente 20 mil lançamentos por mês. De acordo com a Prefeitura de Boituva, é o local onde mais se salta de paraquedas no mundo, entre saltos turísticos e profissionais.
O delegado esclareceu que Bruna foi socorrida de forma adequada depois do acidente no domingo (24), já que o CNP conta com um bombeiro à disposição para fazer os primeiros socorros. Ele afirmou que não houve negligência no resgate, mas acredita que a UTI móvel vai trazer mais segurança aos atletas.
“O inquérito não vai somente esclarecer a fatalidade, mas também garantir novos procedimentos de segurança. Pedi para o juiz para que seja colocado de imediato. A UTI móvel é cara, mas o paraquedismo gera muito dinheiro, então tem que por”, relata Emerson.
De acordo com o presidente da Confederação Brasileira de Paraquedismo (CBPq), Uellinton Mendes de Jesus, o centro conta com uma UTI móvel quando eventos grandes são realizados no local. Ele disse que, no dia a dia, não é comum ter acidentes no espaço.
“Não adianta ter UTI se o próprio bombeiro da CBPq já consegue imobilizar um osso quebrado, por exemplo, por na ambulância e levar para o hospital, mas o hospital precisa ter ortopedista para atender bem os paraquedistas”, afirma.
Segundo Uellinton, no caso da Bruna, as equipes viram o acidente pelas câmeras de segurança e fizeram o resgate imediatamente. “Também temos uma sinergia grande com Samu e bombeiros. Eles atendem muito rápido as chamadas que vêm de lá”, explica.
Novas regras
Além da medida cautelar, a Polícia Civil também pediu a instauração de um inquérito civil ou ação civil pública, por parte do Ministério Público, para que determine algumas regras a serem cumpridas pelas escolas de paraquedismo de Boituva.
A Polícia Civil sugere, no documento, que as escolas sigam uma regra única para o esporte, devido à dificuldade de apurar irregularidades no exercício do paraquedismo, já que cada associação ou confederação têm regras próprias, conforme a representação.
Além disso, a Polícia Civil alega que as normas internas do centro de paraquedismo não dão aos fiscais o poder de coibir abusos de conduta, como manobras radicais. Por isso, afirma a necessidade de que os responsáveis pela fiscalização possam “impedir que pessoas que estejam sem condições de saltar subam no avião”.
De acordo com a Polícia Civil, também existe a necessidade de definir um responsável geral pelo centro e criar uma sede administrativa para reunir informações importantes sobre as atividades do local.
Para a autoridade policial, “tais medidas são imprescindíveis para evitar novas mortes e atenuar a probabilidade delas ocorrerem em Boituva”.
Ao g1, o presidente da Confederação Brasileira de Paraquedismo explicou que o órgão tem uma série de regras a serem seguidas por todas as escolas de Boituva.
“Têm provas para passar para cada categoria no esporte, e o número de saltos tem que ser comprovado em cadernetas. Os instrutores habilitam os alunos pra isso, aí tem todas as regras de segurança do CBPq e acompanhamento dos atletas”, explica.
De acordo com Uellinton, cada vez que um paraquedista se envolve em um acidente, a CBPq cria novas regras e procura maneiras de coibir as ocorrências. Ele afirmou que um seminário será realizado no dia 4 de maio para orientar os responsáveis técnicos das atividades (RTAs) a ficarem mais atentos aos saltos de cada atleta.
“Às vezes a gente suspende a licença de um atleta por cometer alguma irregularidade. Só que esses 30 dias de suspensão, por exemplo, não são nada perto do tempo na vida que você tem para saltar. As regras são para serem seguidas e, não porque a CBPq é autoritária, mas muitas pessoas deram a vida para que esse código de segurança pudesse ser feito”, afirma Uellinton.
Causas do acidente
Paraquedistas ouvidos acreditam que o acidente que terminou com a morte de Bruna Ploner foi causado por um possível erro técnico da atleta no momento do pouso.
De acordo com atletas locais, Bruna saltou com um paraquedas menor, de alta performance, mas que era adequado para o tipo de salto que ela estava fazendo. No entanto, eles acreditam que Bruna tenha feito a curva que é necessária antes da aterrissagem em uma altitude menor do que a indicada.
Uma câmera de segurança registrou o acidente. O vídeo mostra que a paraquedista caiu no chão e foi arrastada por alguns segundos. Com o impacto, Bruna sofreu politraumatismo e foi levada ao Hospital Municipal São Luiz, mas não resistiu aos ferimentos.
Veja o vídeo.
O delegado Emerson Jesus Martins afirmou que já ouviu várias testemunhas sobre o acidente e aguarda o resultado da perícia feita no equipamento que Bruna utilizava.
Conforme apurado, a esportista estava no cargo de 3º sargento do Exército Brasileiro e integrava o Programa de Atletas de Alto Rendimento da corporação, ligado à Comissão de Desportos do Exército (CDE). Ela era uma atleta experiente e já havia atuado como instrutora de saltos.
De acordo com a escola de paraquedismo através da qual Bruna fez o salto no dia 24, a atleta estava apta para usar o equipamento e saltar em qualquer área do Brasil, regulamentada pela Confederação Brasileira de Paraquedismo.
A empresa informou que, no momento do acidente, a sargento fez um salto particular com um equipamento próprio.
Em nota, a CBPq informou que o relatório de investigação sobre o acidente, produzido pelo perito técnico designado pela confederação, não detectou nenhum tipo de problema com o equipamento utilizado por Bruna.
Fonte: G1