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Especialistas de diferentes agências espaciais e de monitoramento da atmosfera avaliaram dados de temperatura de 2024 nesta sexta-feira (10), e tanto europeus quanto estadunidenses concordam que o ano de 2025 deve dar uma pausa na sequência de anos mais quentes já registrados, como ocorreu nos dois últimos.
O Serviço de Mudança Climática da agência espacial europeia, Copernicus, divulgou que, nas suas medições, o ano passado, além de ser o mais quente da história recente, foi o primeiro com uma média de calor atípico que ultrapassou a barreira de 1,5°C acima das médias do período pré-industrial (1850-1900), fechando em 1,6°C mais quente.
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O achado europeu não é compartilhado pelos norte-americanos. A Nasa, agência espacial dos Estados Unidos, e a NOAA (Administração Nacional da Atmosfera e dos Oceanos), que também monitora a temperatura do ar e dos mares no planeta, afirmaram que seus instrumentos indicam no máximo que a barreira de 1,5°C foi alcançada, mas não podem afirmar que foi superada.
Os números oficiais dos norte-americanos ficam entre 1,46°C e 1,47°C, com margem de erro de 0,13°C, segundo informaram NOAA e Nasa em conferência de imprensa. Todos concordam, porém, que 2024 foi o ano mais quente em mais de um século.
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O que se espera para 2025
No caso de 2025, o ano começa com influência do fenômeno La Niña, que resfria as águas do Oceano Pacífico, o que ajuda a manter o clima mais ameno na média global. No ano passado, a influência do fenômeno inverso, El Niño, esquentou o Pacífico e acrescentou 0,1°C à média de 2024, aponta a Nasa.
“A resposta virá do oceano. No final de 2024 houve um leve resfriamento. É justo dizer que 2025 deve fechar ao menos entre os top 3 [mais quentes], mas é algo que vamos monitorar durante o ano”, observou na quinta-feira (9) Samantha Burgess, chefe de estratégia para o clima do ECMWF (Centro Europeu de Previsões Meteorológicas a Médio Prazo), que integra o Copernicus, um palpite compartilhado pelos americanos de NOAA e Nasa.
La Niña chegou, mas deve durar pouco
A janela de ação da Niña ainda é incerta, pois a primavera do Hemisfério Norte é considerada uma barreira meteorológica que dificulta previsões. Os dados iniciais divulgados pela NOAA nesta quinta-feira dizem que o fenômeno se apresenta de forma moderada em relação ao resfriamento do Pacífico, e deve durar relativamente pouco, com 60% de chance de chegar até abril.
Os oceanos, no entanto, nunca estiveram tão quentes nas medições, apontam os centros de pesquisa. Em 2024, assim como a temperatura do ar foi recorde, o mesmo ocorreu na superfície dos mares, segundo dados do Copernicus.
Em comparação, o último El Niño durou mais de um ano, afetando de forma contundente o clima no Brasil, entre outras partes do mundo. No caso brasileiro, tanto as chuvas que castigaram o Rio Grande do Sul, assim como as secas no Pantanal e na Amazônia, sofreram influência da conjuntura quente no Pacífico, afirmam pesquisadores.
Barreira do 1,5°C “segue viva”
Os pesquisadores dos dois continentes destacaram que, mesmo que um ano termine com média de excesso de calor acima de 1,5°C não quer dizer que a meta do Acordo de Paris foi por água abaixo. A referência estabelecida no âmbito da COP foi de que a meta estará perdida caso o planeta permaneça por um período prolongado, de 20 anos ao menos, esquentando mais do que o limite científico estabelecido.
*O clima hoje é com certeza diferente do tempo de nossos pais e avós, mas o 1,5°C de Paris ainda não foi perdido, pois considera um período maior. O 1,5 não está morto, e se passarmos, o que é provável, vamos focar em 1,51, depois 1,52 e assim por diante”. disse Samantha Burgess, chefe de estratégia para o clima do ECMWF/Copernicus
Gavin Schmidt, diretor do Instituto Goddard de Estudos Espaciais, da Nasa, chamou atenção para o fato de que enquanto houver emissões de gases de efeito estufa, provenientes em grande parte da queima de derivados de petróleo nas atividades econômicas, as temperaturas vão continuar subindo, e a mudança do clima permanecerá uma realidade perturbadora, como o noticiário vem mostrando com cada vez mais frequência.
“Fizemos centenas de análises coletivamente [sobre 2024] dos padrões de chuva e ondas de calor. Está claro que estes fenômenos intensos não estariam acontecendo sem ação do homem que causa a mudança do clima. Estamos vendo mudanças, o sinal é tão forte que você vê em escala local, continental e global. Não é um exercício esotérico dos cientistas, é algo na vida das pessoas.”
Fonte: Um Só Planeta