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O Brasil alcançou no Rio a sua melhor participação no handebol masculino na história da Olimpíada. Após a classificação inédita na fase de grupos, a seleção caiu nas quartas de final para a França, atual bicampeã olímpica, por 34 a 27, na Arena do Futuro. E bastou o apito final do juiz nesta quarta-feira para a tristeza pela eliminação dar lugar à incerteza. Qual será o futuro da modalidade? O técnico Jordi Ribeira, que tem contrato até o fim de agosto, não garantiu permanência. E vários atletas demonstraram preocupação em relação aos investimentos.
O Brasil conseguiu jogar de igual para igual com a França durante 45 dos 60 minutos de jogo. O primeiro tempo terminou empatado em 16 a 16. Favoritos ao terceiro ouro seguido, os europeus só conseguiram abrir vantagem a partir de quando o placar marcava 22 a 22. Se dizendo orgulhoso e definindo a participação brasileira na Olimpíada como espetacular, Jordi deixou claro que a evolução só vai continuar caso haja investimento.
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– Não sei (se continuo como técnico do Brasil). Quando estivermos um pouco mais tranquilos, daqui a alguns dias, vamos decidir. Mas temos que seguir apoiando e investindo no esporte. Infelizmente, o projeto de acampamentos acabou em 2014. Começou dois anos antes e muitos que estão aqui saíram dessas atividades. O fim do projeto nos deixa tristes. Sabemos o que fizemos nesse período e tudo o que deixamos de fazer nos anos seguintes. Temos que formar jogadores, fazer uma renovação natural, uma seleção de talento que no momento certo vai dar resultados. Se deixarem para apoiar o handebol apenas no ano da competição, estamos perdidos – resumiu o treinador.
Os acampamentos citados por Jordi fizeram parte de um trabalho de base responsável por revelar quatro dos atletas que defenderam o Brasil nos Jogos do Rio: Zé, João, Oswaldo e Haniel. Capitão na Olimpíada, Thiagus chorou muito após a eliminação. E avisou que, sem investimento na formação de novos jogadores, todo o trabalho terá sido em vão.
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– Agora é ver se a gente vai conseguir continuar com o projeto. O problema é a continuidade, onde a gente tem uma interrogação aí. Eu vejo (o futuro) um pouco negro, não sei se temos projeto para trabalhar as categorias de base. A gente chegou nessa classificação trabalhando a base. Foram canceladas muitas concentrações das categorias de base e a chave é investir na base. Talvez ter uma liga nacional forte. Hoje no Brasil, a gente tem um clube profissional de handebol. O problema é a estrutura no Brasil em geral. Se a gente não melhorar isso, é impossível a gente chegar a um dia competir com os grandes.
Confederação: prioridade foram as seleções adultas
Presidente da Confederação Brasileira de Handebol (CBHb), Manoel Luiz Oliveira reconheceu que o cenário interno do handebol brasileiro não é dos melhores. No ano passado, a Liga Nacional, principal campeonato do país, foi disputada com 10 times, sendo quatro de São Paulo, dois de Minas Gerais, dois do Paraná, um de Santa Catarina e um do Rio de Janeiro. Historicamente costumam chegar às finais sobretudo clubes paulistas.
Em termos de investimento, a CBHb contou com uma receita de R$ 20 milhões em 2015 e contabilizou um déficit de pouco mais de R$ 2 milhões, terminando o ano com aproximadamente R$ 5 milhões em caixa.
– Aqui no Brasil, nem no continente (americano), não temos campeonatos, nem temos equipes que possam proporcionar o nível de preparação que é fundamental para jogar competições desse tipo, como Mundiais e Jogos Olímpicos. Os nossos campeonatos internos têm que melhorar, precisam melhorar e temos feito isso. A confederação não tem obrigação de financiar clube, principalmente nesse ciclo. Tivemos que otimizar todos os nossos esforços e recursos para dar a melhor preparação possível – disse o presidente.
Manoel ainda defendeu o planejamento adotado pela CBHb de priorizar as seleções masculina e feminina na segunda metade do ciclo olímpico. Nesse processo, os acampamentos regionais e nacionais das categorias de base, que vinham sendo realizados com o acompanhamento de Jordi Ribera, foram cancelados em 2015.
– Os acampamentos são feitos com categorias de base e tínhamos uma Olimpíada na nossa casa. Os recursos foram voltados para a seleção brasileira, a prioridade do ciclo foi a seleção. Os recursos dos acampamentos vinham do Ministério do Esporte, mas desde o ano passado que não se abriu nenhuma chamada pública para que, tendo projeto já feito, aplicar. Lá, eles também tiveram que dar prioridade para outras ações. É um sonho (handebol forte dentro do Brasil), e não estamos no país das maravilhas. Uma modalidade em que a base é a escola e há poucos clubes e universidades que disputam, é difícil ter dinheiro para fazer tudo. O recurso é muito pequeno – completou Manoel.
Mudança em Liga e futuro nebuloso
A Liga Nacional deste ano será diferente das temporadas anteriores. Com direito a transmissão de partidas na TV aberta, a competição, que começa após os Jogos Olímpicos do Rio e termina em dezembro, será disputada num formato regionalizado. São cerca de 30 times divididos em três zonas: Norte, Nordeste e Sul/Sudeste. É um projeto já confirmado em meio à dúvida que a própria CBHb tem sobre como ficarão os repasses e a situação financeira da entidade pós-Olimpíada.
– Para poder fazer as coisas do jeito que queremos, precisamos ter espaço e dinheiro. Não tem milagre, não cai dinheiro do céu, quiçá do chão. O handebol nunca teve dinheiro. De 2008 a 2012, não tínhamos patrocínio nenhum e nunca deixamos de crescer. A carta de alforria foi a lei Agnelo Piva (Lei de Incentivo ao Esporte). É uma utopia imaginar que podemos financiar uma liga. Mas não faltou nada (para as seleções masculina e feminina) para este momento. Agora, precisa ter recurso e ele não cai do céu. A gente precisa fazer coisas, como agora que estamos encantando Deus e o mundo, tendo uma repercussão fantástica, e a gente espera que isso se transforme adiante em ajuda. Para muita gente, o mundo vai acabar no dia 21 de agosto (encerramento da Olimpíada do Rio) – disse Manoel.
Fonte: G1