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Dentre os seis biomas brasileiros – Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal – este último se destaca por algumas peculiaridades. Com 195 mil quilômetros quadrados, é o segundo menor em tamanho – só supera o Pampa, que tem 178 mil quilômetros quadrados -; o que tem menos espécies em geral e endêmicas em particular (são apenas 54 exclusivas do bioma); e não tem nenhuma na categoria Criticamente em Perigo. Isso não significa, no entanto, que não tenha problemas e não mereça atenção em termos de conservação. Pequenas centrais hidrelétricas (PCH), queimadas, plantio de monocultura no entorno e desmatamento, por exemplo, são grande ameaças a sua biodiversidade.
De acordo com o pesquisador João Batista de Pinho, do Laboratório Ecologia de Aves/Biodiversidade, da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMG), o bioma tem sofrido muito com empreendimentos ligados a essas atividades, o que tem afetado as espécies, principalmente as aves aquáticas coloniais, que se reproduzem em praias fluviais. “Nos últimos anos, temos monitorado alguns rios, como o Cuiabá e o São Lourenço, por exemplo, dois dos principais que atravessam o Pantanal, e temos percebido diminuição na abundância e perda de áreas de reprodução, por falta de água no período reprodutivo”, conta.
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Outra grande ameaça, segundo ele, são os garimpos, como os do município de Poconé, que usam mercúrio para extração do ouro e não têm controle do órgão ambiental. Nos últimos anos, o Ibama realizou fiscalizações no município que levaram à aplicação de multas milionárias, além de apreensão de equipamentos, mas ambientalistas seguem denunciando o avanço do garimpo em Poconé e na cidade vizinha Nossa Senhora do Livramento.
“Além disso, as queimadas descontroladas são a maior ameaça para as espécies da planície pantaneira, pois ocorrem principalmente durante o período reprodutivo das aves em geral”, diz. “As pequenas, por exemplo, não têm autonomia para voos distantes, então morrem nos incêndios”.
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Segundo dados do Sistema de Avaliação do Risco de Extinção da Biodiversidade (SALVE), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), das 1.391 espécies estudadas no bioma, cinco (0,4%) estão na categoria Em Perigo, e 27 (1,9%) na de Vulnerável. Há uma ainda listada como Regionalmente Extinta. Trata-se do maçarico-esquimó (Numenius borealis), que foi uma espécie globalmente numerosa no século XIX, mas cuja população sofreu grave declínio, devido à caça excessiva na costa do Atlântico e no rio Mississipi.
Ela não é registrada no Brasil há mais de 150 anos. Lançado em agosto de 2023, o SALVE é uma plataforma online, que reúne 14.795 espécies avaliadas quanto a seu risco de extinção, da quais 8.390 possuem uma ficha com todos os seus dados publicada, e 1.253 estão em alguma categoria de ameaça. Além de avaliar o risco de extinção dos animais, o objetivo do projeto é tornar essas informações acessíveis, para ajudar na criação de políticas públicas para conservação da biodiversidade do país.
Para o biólogo Fernando Dagosta, da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), a maior ameaça à biodiversidade pantaneira é o avanço da agropecuária e as modificações no habitat resultantes dessas atividades, especialmente a substituição de áreas nativas por pastagens. “A expansão das fronteiras agrícolas na região Centro-Oeste contribui para a degradação da vegetação pantaneira”, diz.
Além disso, a caça e a captura de animais silvestres, seja para o comércio ilegal de fauna ou para consumo, representam a segunda maior ameaça no bioma. “No Pantanal, essas práticas exercem um papel determinante no declínio das populações de aves e mamíferos, [que estão classificados na categoria Vulnerável]”, explica Dagosta. “Entre elas, estão, por exemplo, o bicudo-verdadeiro (Sporophila maximiliani), a onça-pintada (Panthera onca), o cervo-do-pantanal (Blastocerus dichotomus) e a anta (Tapirus terrestris).”
Apesar disso, ele considera a situação do Pantanal menos grave que a dos demais biomas brasileiros. “Ele é de longe o mais preservado do Brasil em termos proporcionais. Todos os demais enfrentam maior transformação de suas áreas naturais em ambientes urbanizados ou para agropecuária”, explica. Na Amazônia, por exemplo, o desmatamento, o avanço do garimpo ilegal e da criação de gado e monocultura colocam em risco mais de 200 espécies.
Fonte: Um Só Planeta