30 de novembro, 2024

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‘Ainda falta muito’, lamentam parentes de vítimas de feminicídio na Argentina

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“Quiseram nos enterrar, mas não sabiam que éramos sementes”, diz uma faixa pendurada em frente ao Congresso argentino, em um dia de manifestação contra os feminicídios e a violência de gênero, sete anos após a primeira passeata sob o lema “Nem Uma a Menos”.

Na praça dos dois Congressos, cerca de 150 pares de sapatos, sandálias e botas pintados de lilás – cor da luta feminista – evocam as mulheres assassinadas, em muitos casos ainda à espera de justiça.

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“Os sapatos vazios representam o vazio que deixaram em nossas vidas”, explicou à AFP Marcela Morera, 52, uma das fundadoras da organização Famílias Atravessadas pelo Feminicídio.

Sua filha, Julieta Mena, tinha 22 anos e estava grávida de três meses em 11 de outubro de 2015 quando foi morta por seu companheiro sete anos mais velho, em sua casa na periferia de Buenos Aires.

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“Ele queria que ela fizesse um aborto, ela se negou e ele a chutou na barriga e nos genitais para provocá-lo até matá-la”, conta a mãe, agora madrinha de um abrigo para vítimas da violência de gênero.

Com um colete com a foto da filha na parte da frente, Morera reconhece que eu seu caso a justiça foi rápida. O assassino foi entregue pela própria família e dois anos após o crime, foi condenado à prisão perpétua, sem o benefício da liberdade condicional por se tratar de feminicídio.

O movimento Nem Uma a Menos nasceu em 3 de junho de 2015, quando dezenas de milhares de mulheres foram às ruas exigir justiça pelo feminicídio da adolescente Chiara Páez, que estava grávida e foi assassinada por seu namorado, condenado a 21 anos de prisão.

– ‘Estão nos Matando’ –

Sob o lema “Vivas nos queremos”, dezenas de milhares de mulheres voltaram às ruas nesta sexta em diferentes cidades do país para reforçar o pedido de justiça, assim como o cumprimento de leis de proteção às vítimas e de formação de funcionários sobre a questão de gênero, cuja aplicação ainda é deficiente, segundo as vítimas.

“Contra a violência machista, resistência feminista… Nem uma a menos”, dizia um cartaz.

Foram cometidos em 2021 na Argentina 251 feminicídios, o que representa um a cada 34 horas ou dois a cada três dias, segundo o registro nacional realizado pelo Gabinete da Mulher da Suprema Corte de Justiça. Um total de 81% dos casos ocorreram em contextos de violência doméstica e 62% foram cometidos pelo companheiro ou ex-companheiro, segundo o relatório.

O número de vítimas mostra uma queda de 13% em relação a 2020, quando foram registrados 287 casos, e foi o menor desde o início do registro, em 2015. Essa redução “reflete o impacto das políticas públicas em matéria de gênero e diversidade”, tuitou o presidente Alberto Fernández, que recebeu nesta sexta-feira um grupo de familiares de vítimas de feminicídios.

Desde 2015, quando começou a contagem, foram registrados cerca de 2.000 feminicídios.

– ‘Incêndio’ –

Muitas famílias de vítimas enfrentam dificuldade para fazerem valer seus direitos e, sobretudo, o dos filhos dessas mulheres, que, às vezes, ficam nas mãos do agressor ou não recebem o auxílio adequado, disse à AFP Eva Domínguez, 58, que precisou recorrer à Comissão Interamericana de Direitos Humanos pelo feminicídio de sua cunhada, Vanesa Celma, ocorrido em Santa Fé em 2010.

O assassino continua livre. “A causa foi classificada como incêndio, como se ela fosse uma mesa, uma coisa”, lembrou Eva, afirmando que os policiais e promotores mandaram limpar a cena do crime, que nunca foi investigado.

Apenas seis anos depois, conseguiu mudar a classificação para “investigação da morte”, mas, antes de arquivar o caso, “a promotora me disse que Vanesa morreu por amor”, denunciou.

Fonte: Yahoo!

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