07 de outubro, 2025

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“A verdade sempre prevalece”: Beatriz Abagge fala sobre absolvição no Caso Evandro e o papel do jornalismo investigativo

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Em entrevista exclusiva ao Leia Notícias, Beatriz Abagge comenta decisão do STJ, relata impactos de três décadas de acusações e avalia a importância do jornalismo investigativo para a revisão do caso.

Após mais de 30 anos, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) manteve a decisão que anulou os processos dos acusados no Caso Evandro, crime que marcou o Brasil nos anos 1990. Condenada em um julgamento permeado por irregularidades e denúncias de tortura, Beatriz Abagge se tornou símbolo da luta contra erros judiciais.

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Em entrevista exclusiva ao Leia Notícias, ela compartilhou reflexões sobre a decisão judicial, os impactos pessoais e profissionais dessa trajetória e o papel do jornalismo investigativo — especialmente o podcast Projeto Humanos, de Ivan Mizanzuk — na reabertura do debate público.

Justiça e primeiras reações

Leia Notícias: Como você recebeu a notícia de que o STJ manteve a decisão que anulou os processos dos condenados no Caso Evandro?
Beatriz Abagge: Recebi a notícia com serenidade e a convicção de que a verdade prevaleceria. Desde o início, confiei na Justiça, mesmo diante de tantos abusos. Para mim, era evidente que o Ministério Público seria confrontado com os próprios erros — e que isso seria inevitável diante das provas e da realidade dos fatos.

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Leia Notícias: Qual foi sua primeira reação emocional e pessoal diante dessa confirmação?
Beatriz Abagge: A confirmação trouxe um sentimento de alívio, mas não de surpresa. Eu já aguardava essa decisão, pois sempre acreditei que a verdade viria à tona. O que realmente importa, agora, é o trânsito em julgado para que eu possa buscar a responsabilização de todos os agentes do Estado envolvidos nas torturas e violações que sofri.

Impacto pessoal e familiar

Leia Notícias: Durante mais de três décadas, sua família esteve diretamente ligada ao caso. Como essa trajetória afetou sua vida pessoal e profissional?
Beatriz Abagge: Sou terapeuta ocupacional concursada da Prefeitura de Guaratuba desde antes do início do processo. Mesmo com as adversidades, sempre me mantive firme profissionalmente. Em 2016, retornei a Guaratuba e, desde então, atuo no CAPS do município. No mesmo ano, concluí minha graduação em Direito e fui aprovada no exame da OAB, mas até hoje a seccional paranaense nega meu direito de exercer a advocacia — uma nova forma de violência institucional que sigo enfrentando com firmeza.

Leia Notícias: Houve momentos em que você pensou que a verdade jamais seria revista judicialmente?
Beatriz Abagge: Nunca. Em nenhum momento deixei de acreditar que a verdade prevaleceria. Sempre enfrentei tudo de cabeça erguida, sem me vitimizar. Lutei todos os dias com a certeza de que o tempo e a coragem colocariam as coisas no seu devido lugar.

O papel do jornalismo investigativo

Leia Notícias: O podcast Projeto Humanos – O Caso Evandro, do Ivan Mizanzuk, foi determinante para trazer novas informações ao público. Como você avalia o impacto dessa produção na revisão judicial do caso?
Beatriz Abagge: O podcast teve um impacto profundo — não apenas na revisão do caso, mas também na forma como a sociedade passou a compreendê-lo. O que o Ivan fez foi dar espaço a uma versão que nunca havia sido ouvida de maneira justa e aprofundada. Ele não fez sensacionalismo: investigou, ouviu todos os lados, analisou documentos, reconstituiu a cronologia dos fatos com rigor. O podcast mostrou como o jornalismo investigativo, quando feito com ética, coragem e profundidade, pode ser um verdadeiro instrumento de justiça.

Relembre o caso

O Caso Evandro ocorreu em 1992, quando o menino Evandro Ramos Caetano, de seis anos, desapareceu em Guaratuba, no Paraná. Dias depois, seu corpo foi encontrado com sinais de violência, em circunstâncias que logo geraram grande repercussão.

Sete pessoas foram acusadas do crime, incluindo Beatriz Abagge e sua mãe, Celina Abagge, então prefeita da cidade. As investigações e os julgamentos foram marcados por denúncias de tortura para obtenção de confissões, contradições processuais e pressões políticas.

O caso voltou ao debate nacional em 2018, com o lançamento do podcast Projeto Humanos – O Caso Evandro, do jornalista Ivan Mizanzuk. A produção revelou documentos inéditos e expôs inconsistências da investigação, colocando em dúvida a validade das condenações.

Em 2022, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) confirmou a anulação das condenações relacionadas ao caso, reconhecendo falhas graves no processo. A decisão marcou uma reviravolta histórica e reforçou o papel do jornalismo investigativo como instrumento de revisão e fiscalização da Justiça no Brasil.

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