Anúncios
Um levantamento realizado pela casa de análise Spiti, divulgado pela CNN Brasil, indicou que 96% dos fundos de previdência de renda fixa no Brasil não conseguem superar a taxa Selic. A análise considerou 179 dos 198 fundos abertos, que juntos somam um patrimônio de R$ 306,9 bilhões. O dado reforça a necessidade de avaliação criteriosa por parte dos investidores, especialmente em um contexto de taxas de juros elevadas.
A Selic, atualmente fixada em 15% ao ano, passou por uma trajetória de alta entre 2021 e 2023, saindo de 2% para mais de 13% ao ano, conforme dados do Banco Central. Para Clayton Andrade, sócio-fundador da Você Investidor, “esse movimento pressionou o mercado de renda fixa, tornando mais evidente o desempenho inferior de fundos que, mesmo com metas de replicar o índice, não conseguem acompanhá-lo em razão de custos e políticas conservadoras de investimento”.
Anúncios
Segundo dados da FenaPrevi, a previdência complementar aberta no Brasil administra mais de R$ 1,3 trilhão em ativos, sendo que a renda fixa representa a maior parte das alocações. Eduardo Mazzurana, também sócio-fundador da Você Investidor, destaca que “a concentração de recursos em fundos com taxas elevadas e estruturas pouco eficientes amplia significativamente o desafio de entregar uma rentabilidade líquida superior ao custo de oportunidade representado pela Selic”.
Estrutura dos fundos e o impacto das taxas
Anúncios
Embora muitos fundos de previdência privada adotem uma postura tradicionalmente conservadora, esse excesso de cautela pode comprometer o potencial de rendimento, especialmente quando combinado com taxas de administração superiores a 1% ao ano — patamar considerado elevado para produtos com baixa complexidade. Fundos que buscam superar benchmarks como a Selic ou o CDI geralmente assumem riscos maiores, com maior exposição a ativos de crédito privado e instrumentos sujeitos à volatilidade. No entanto, boa parte dos fundos permanece alocada majoritariamente em títulos públicos federais, com baixo risco de crédito, o que limita seu desempenho em cenários de juros elevados. Essa característica está prevista na Classificação de Fundos de Investimento da CVM, que define fundos referenciados como aqueles que devem manter ao menos 80% do patrimônio em títulos públicos federais ou ativos de baixo risco de crédito.
Segundo Clayton Andrade, essa ineficiência está relacionada à própria estrutura dos produtos disponíveis no mercado: “Grande parte dos fundos de previdência privada ainda está atrelada a estruturas que não priorizam a eficiência para o investidor. Taxas elevadas e a ausência de uma gestão voltada para superar a Selic comprometem os resultados no longo prazo. Além disso, é muito importante escolher corretamente o tipo de plano e o regime tributário. Essa é uma decisão primordial na fase inicial da aquisição do plano e pode impactar diretamente a rentabilidade líquida ao longo dos anos”.
Eduardo Mazzurana complementa que “a avaliação periódica dos planos de previdência é fundamental. Muitos investidores mantêm produtos antigos, sem perceber que a rentabilidade está aquém da média do mercado e que há alternativas mais eficientes e alinhadas aos seus objetivos financeiros. Por isso, é essencial contar com um profissional capacitado para ofertar esse tipo de ativo, com um olhar criterioso, capaz de avaliar caso a caso a alocação mais adequada ao perfil e ao momento de vida do proponente”.
Regulação e transparência
A regulamentação do setor é realizada pela Superintendência de Seguros Privados (SUSEP) e acompanhada por entidades como a ANBIMA, que exige a divulgação padronizada das informações sobre rentabilidade e custos.
Boas práticas para o investidor
Diante desse cenário, Clayton Andrade observa que “é comum que investidores mantenham planos antigos sem perceber que a performance está abaixo do esperado. A revisão periódica é essencial para manter o alinhamento com os objetivos financeiros. Apesar dos avanços regulatórios, ainda há pouca clareza no mercado sobre o impacto das taxas na rentabilidade líquida. Além da taxa de administração, é preciso considerar encargos como taxa de carregamento, performance e eventuais penalidades por resgate, que afetam diretamente o resultado final do investimento”.
- Verificar a taxa de administração e outros custos;
- Comparar a rentabilidade histórica com a Selic e o CDI;
- Considerar a possibilidade de migrar para fundos mais eficientes ou portabilidade;
- Utilizar ferramentas públicas, como o comparador de fundos da ANBIMA, para análise técnica.
Muitos fundos de previdência mantêm políticas excessivamente conservadoras, o que pode limitar a rentabilidade do investidor, embora essas estratégias possam melhorar o retorno. Essa prática foi apontada em estudo da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que analisou a alocação de ativos em fundos de previdência no Brasil e indicou concentração elevada em títulos públicos federais e baixo risco de crédito.
Segundo Eduardo Mazzurana, “buscar um retorno acima da Selic exige aceitar um nível maior de risco. O papel do planejamento financeiro é justamente calibrar essa relação conforme o perfil do investidor. A escolha entre segurança e retorno deve ser alinhada aos objetivos de longo prazo do investidor”.
“Além da análise individual, as consultorias de investimentos independentes se apresentam como uma alternativa relevante para auxiliar na avaliação técnica e estratégica dos produtos disponíveis no mercado. Por atuarem sem vínculo com instituições financeiras, essas consultorias conseguem manter o foco na eficiência e na personalização da alocação de recursos, priorizando os objetivos do investidor”, afirma Clayton Andrade.
“Esse cenário reforça a importância de que os investidores acompanhem de perto a eficiência de seus investimentos. Práticas como avaliações periódicas, comparação entre produtos e, sempre que necessário, o apoio de uma consultoria especializada, podem ser determinantes para assegurar que os recursos destinados ao futuro estejam alinhados com a realidade do mercado e com os objetivos individuais de cada pessoa”, completa Clayton.