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A adolescência é uma fase marcada por intensas transformações físicas, emocionais e sociais. Para os jovens com Transtorno do Espectro Autista (TEA), esses desafios se tornam ainda mais complexos. A necessidade de socializar, desenvolver autonomia e lidar com mudanças no corpo e na rotina pode gerar insegurança, ansiedade e até isolamento, especialmente quando não há suporte adequado da família, da escola e da rede de saúde, segundo a psicóloga Daniela Landim.
De acordo com a especialista, primeira brasileira certificada com QBA (qualified behavior analyst) e coordenadora da Versania Cuidado Infantil, em São Paulo, as dificuldades enfrentadas por adolescentes autistas variam de acordo com cada indivíduo, mas costumam envolver questões como a interação social, interpretação das regras sociais, manutenção de conversas sobre temas diversos e saída de seus hiperfocos, que são pontos que costumam gerar dificuldades. “Também há desafios no desenvolvimento da independência, como tomar decisões e se organizar, além de dificuldades naturais relacionadas às mudanças físicas da adolescência”, ressalta.
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A psicóloga explica que, diferentemente da infância, a adolescência impõe novas e maiores demandas sociais e emocionais. “A gente pode ver mais ansiedade, depressão, isolamento e dificuldade em lidar com essa fase de forma geral”, afirma. No ambiente escolar, segundo ela, os desafios são ainda maiores: “A maioria das escolas não está preparada para atender adolescentes autistas. Falta capacitação da equipe, e muitas vezes não há adaptações de conteúdo ou ambiente necessárias para a inclusão”, lamenta.
Em meio a esse cenário, Daniela dá exemplos concretos: “Se um adolescente autista tem dificuldade para permanecer sentado durante toda a aula, que tipo de adaptação será feita para que ele participe das atividades? Ou se ele tem sensibilidade ao som, como interagir com os colegas no intervalo, quando há muito barulho?”, questiona. Para ela, são questões que precisam ser pensadas com planejamento e empatia.
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A especialista explica que a educação especial contempla estudantes com deficiência, transtorno do espectro autista, altas habilidades ou superdotação. Entre 2023 e 2024, as matrículas de alunos com TEA cresceram 17,2%, saltando de 1,8 milhões para 2,1 milhões, conforme dados do Censo Escolar divulgado pelo Ministério da Educação. Já na série histórica, o número de estudantes matriculados na educação especial aumentou 58,7%, em relação a 2020.
De acordo com psicóloga, a ausência de diagnóstico ou intervenção precoce compromete o desenvolvimento de habilidades importantes. “Sem os estímulos corretos, essa criança pode não adquirir competências sociais, cognitivas e emocionais, e na adolescência isso se reflete em dificuldades maiores, como queda no rendimento escolar”, destaca. Acrescenta que a complexidade dos conteúdos aumenta, e sem o suporte adequado, o adolescente pode enfrentar dificuldades que não existiam na infância. “Vemos também um aumento significativo de ansiedade e depressão, muitas vezes ligados à falta de suporte na infância”, completa.
Psicoeducação
Na abordagem de temas delicados como autoestima, ansiedade, sexualidade e depressão, Daniela Landim destaca a importância da psicoeducação. “É preciso ensinar de forma clara, acessível, com recursos visuais e exemplos, de acordo com o nível de compreensão de cada adolescente. Trabalhar o reconhecimento e nomeação das emoções, as mudanças do corpo, os limites e o consentimento é essencial”.
Ela também chama atenção para uma lacuna preocupante: a falta de serviços especializados para adolescentes e adultos com autismo. “Há muitas clínicas e centros voltados para crianças, mas pouquíssimos para adolescentes e ainda menos para adultos. Precisamos ampliar as políticas públicas para garantir a continuidade do cuidado”, alerta.
Por fim, Daniela reforça que essa transição precisa de planejamento. “Não podemos pensar só no hoje. Quais habilidades o adolescente precisa aprender agora para garantir mais segurança e independência na vida adulta? Lidar com dinheiro, com transporte, com o autocuidado. Tudo isso precisa ser treinado na adolescência. As intervenções devem ser individualizadas, considerando as possibilidades e necessidades de cada jovem”, conclui ela.