17 de setembro, 2025

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Documentário ‘Lendo o Mundo’ destaca legado de Paulo Freire

Documentário ‘Lendo o Mundo’ destaca legado de Paulo Freire

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O filme Lendo o Mundo, das diretoras Catherine Murphy e Iris de Oliveira, venceu o prêmio de Melhor Longa-Metragem Documentário no Festival de Cinema de Gramado. A obra, uma parceria entre a Maestra Productions e o Instituto Paulo Freire, se debruça sobre os primeiros anos de trabalho do educador e filósofo Paulo Freire (1921-1997), um dos mais influentes pensadores da educação até os dias de hoje. 

Contado por meio das memórias coletivas dos alunos que participaram dos “Círculos de Cultura” e aprenderam a ler e escrever em 40 horas, em especial na cidade de Angicos, no Rio Grande do Norte, a prática revolucionária desenvolvida por Freire fez uso do pensamento crítico e criativo, em vez da memorização e da repetição. 

Com uma equipe de produção de seis estados brasileiros — Bahia, Ceará, Minas Gerais, Pernambuco, Rio Grande do Norte e São Paulo — e também com colaboradores internacionais, que também seguiram o caminho Freiriano para o documentário. 

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“Esse projeto nasce em nossos corações, e é potente perceber todas as conexões realizadas até aqui para seguir construindo essa jornada. Estar no Festival de Gramado com um filme já é uma conquista para qualquer cineasta independente, mas, mais que isso, é a chance de integrar uma história coletiva, lado a lado com obras potentes que compõem esse novo e fértil cenário do cinema nacional. Seguimos conectando jornadas, do Nordeste para todo o Brasil e o mundo, com Paulo Freire, honrando seu legado e compartilhando este sonho de transformação pela educação”, diz Iris de Oliveira, uma das diretoras do documentário. 

Ao reconstruir a atmosfera das aulas, combinando entrevistas atuais com antigos participantes e um riquíssimo acervo de imagens de arquivo, o filme faz do espectador uma testemunha privilegiada daquela experiência educacional, que seria sumariamente interrompida logo após o golpe militar que mergulhou o Brasil em uma ditadura de um quarto de século, no dia 31 de março de 1964. Freire foi preso e partiu para o exílio, voltando ao país apenas em 1980.

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Somos transportados para aquela efervescente experiência em Angicos, com cenas das próprias aulas, que são contextualizadas e explicadas pelos depoimentos recolhidos agora com os antigos alunos do projeto. Cerca de 300 adultos foram alfabetizados em 40 horas, conquistando um outro grau de cidadania, já que na época os analfabetos eram proibidos de votar no Brasil.

No método revolucionário de Freire, as aulas eram estruturadas de forma horizontal com muito diálogo entre o professor e os alunos. A base do trabalho é a investigação do universo vocabular dos alunos, na tematização e na problematização, a partir de elementos da realidade concreta circundante. O filme mostra como termos e temas do cotidiano das pessoas, como por exemplo instrumentos de trabalho, eram usados pelos educadores para captar a atenção e estimular a participação dos alunos a partir de uma perspectiva de reconhecimento e valorização e do conhecimento popular.

A bruta e súbita interrupção do projeto, logo após o golpe militar, e que levou Freire à cadeia e ao exílio, não foi capaz de impedir que ele se tornasse um dos mais respeitados, influentes e estudados pensadores da educação em todo o mundo. Seu pensamento e seu legado são incontornáveis quando se trata de temas como alfabetização de adultos, pensamento crítico e educação popular.

“A abordagem de Freire é mundialmente conhecida como de alfabetização de adultos, mas ele na verdade é muito mais do que isso”, afirma Catherine Murphy, também diretora do filme. “É sobre alfabetização, mas também sobre direito a voto, direitos civis, direitos humanos, tudo o que ele definia como processo de conscientização. Nossa ideia foi justamente olhar para o nascimento desse projeto, que marcou o trabalho de Freire ao longo de toda a sua vida.”

Os efeitos no Brasil, no entanto, são sentidos até hoje: segundo os dados mais recentes do IBGE, de 2024, o Brasil ainda conta com 9,1 milhões de analfabetos, com especial concentração na região Nordeste e nas populações mais envelhecidas: cerca de 14,9% dos idosos no Brasil não sabem ler nem escrever. É um problema persistente e que continua atuando como um grande propagador da desigualdade e da pobreza no país. “Lendo o Mundo” levanta uma questão inevitável: como o Brasil estaria hoje se o método de Freire, ao invés de perseguido e combatido, tivesse sido implantado em escala nacional?

Lendo o Mundo

  • Duração: 70’
  • Ano de Produção: 2025
  • Status: Pós Produção / Finalização
  • Direção: Catherine Murphy & Iris de Oliveira
  • Produção Executiva: Petra Costa, Kit Miller, T.M. Scruggs
Sobre as diretoras
Catherine Murphy é uma documentarista independente e fundadora da Maestra Productions. Seus filmes tem foco na intersecção entre artes, educação e movimentos sociais. Seu primeiro filme, MAESTRA, explora as histórias das mulheres mais jovens que participaram da Campanha de Alfabetização de Cuba em 1961. Foi selecionado para distribuição pela Women Make Movies, traduzido para seis idiomas e continua sendo exibido com frequência 15 anos após seu lançamento. Seus arquivos estão guardados na Universidade da Carolina do Norte. Quatro contos baseados em suas entrevistas foram publicados no penúltimo livro de Eduardo Galeano, Espejos.

Iris de Oliveira Formada em Cinema, atua na área de audiovisual há mais de 20 anos. Possui experiência profissional em montagem (12 longas metragens), elaboração de projetos para audiovisual, criação de roteiro, arte-educação, fotografia, publicidade, TV e WEB. Dirigiu o documentário “ACERVO ZUMVI – O Levante da Memória”, sobre o trabalho do fotógrafo Lázaro Roberto. Co-direitora de “As Travessias de Letieres Leite”. Pesquisadora do gênero Documentário, Cinema Experimental, Arte Contemporânea, Midia-ativismo e Cinema Negro.

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