22 de fevereiro, 2025

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Blockchain, além das criptomoedas, também está na logística

Blockchain, além das criptomoedas, também está na logística

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Segundo o relatório Ilos Fast Reports, a aplicação do blockchain na logística já está presente em 19% das grandes empresas brasileiras e tende a crescer, com 42% das companhias sinalizando esta utilização nos próximos anos. Entre as aplicações mais utilizadas está a rastreabilidade da origem de produtos.

Para entender um pouco mais sobre o funcionamento, benefícios e desafios do blockchain, o especialista em inteligência artificial (IA), Ulisses Silva, head de Logística e Ciências de Dados da Prestex respondeu algumas perguntas.

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De uma forma mais simples, qual a definição de blockchain?

Ulisses Silva: O blockchain é um banco de dados, como se fosse um livro contábil digital, no qual cada página é um “bloco” que contém várias transações, como se fossem registros de um diário. Os blocos são conectados em sequência, formando uma “cadeia” – daí o nome “blockchain” (cadeia de blocos). Pense como se fosse uma corrente inquebrável, na qual cada link é um registro seguro e imutável de dados. O diferencial do blockchain é que ele é descentralizado, quer dizer, é mantido por todos que participam desta rede e não por um único órgão, garantindo transparência, segurança e confiabilidade nas informações.

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Mas como acessar o blockchain?

Ulisses Silva: Existem duas principais formas, a blockchain pública, na qual qualquer pessoa com acesso à internet pode participar, seja criando uma carteira digital (wallet) para transações financeiras, similar a uma conta bancária, ou interagindo com aplicativos descentralizados (DApps), baseados em blockchain; e há a blockchain privada, que é restrita a um grupo de empresas ou organizações que precisam de maior controle e confidencialidade das informações.

E qualquer empresa pode acessar?

Ulisses Silva: Depende. As redes públicas de blockchain, sim, qualquer empresa ou pessoa pode criar contas e usar essas redes para suas finalidades (transações, contratos inteligentes, emissão de tokens etc.). Já nas redes privadas, há regras específicas. Normalmente é preciso entrar em contato com os administradores da rede, que definem quem pode entrar e quais informações podem ser acessadas. Além disso, há requisitos de conformidade legal ou de segurança, como assinatura de acordos ou contratos de confidencialidade, e a necessidade de integrar essa plataforma aos sistemas de gestão da empresa, como ERP ou CRM. Em alguns setores, grupos de grandes empresas se unem para compartilhar uma rede permissionada, por exemplo, cadeias de suprimentos, instituições financeiras, entre outros.

Há exemplos práticos de como o blockchain é utilizado na logística?

Ulisses Silva: O Carrefour já utiliza a plataforma IBM Food Trust para rastrear em poucos segundos a origem de produtos como frutas, vegetais e carnes. Isso ajuda a identificar possíveis problemas e a realizar recalls muito mais rápidos. A Maersk, em uma operação marítima para a Índia, substituiu o documento em papel de conhecimento de embarque (bill of ladin) por um registro em plataforma blockchain, compartilhando informações em tempo real, reduzindo a burocracia e atrasos na liberação de cargas. A agroindústria também tem adotado o blockchain para rastrear a origem de produtos e certificar práticas sustentáveis. 

Quais vantagens o blockchain pode trazer para o setor?

Ulisses Silva: Transparência, eficiência, segurança e integração dos processos. Essa tecnologia oferece visão unificada do ciclo de vida dos produtos, desde a matéria-prima até a entrega ao cliente; possibilita conexão entre diferentes players, como fornecedores, fabricantes, distribuidores e clientes, que podem usar uma mesma plataforma de dados, mesmo que cada um tenha seus sistemas internos. Com a verificação descentralizada, torna-se muito mais difícil falsificar documentos ou manipular registros de estoque e transações. Pagamentos podem ser liberados imediatamente quando a entrega é confirmada; seguros e garantias podem ser acionados sem intermediários.

E na logística emergencial B2B, que é o negócio da Prestex, qual a aplicabilidade do blockchain?

Ulisses Silva: Na logística emergencial, a velocidade e a confiabilidade são cruciais, então o blockchain gera valor quando é preciso ativar novos parceiros ou transportadores no menor tempo possível. Com uma plataforma de blockchain permissionada, assim que o fornecedor é validado, os contratos podem ser geridos por contratos inteligentes, reduzindo a burocracia. Isso agiliza a formalização e a troca de documentação, garantindo que as operações comecem praticamente de imediato. É possível também acompanhar cada etapa do transporte por meio de registros imutáveis, facilitando o monitoramento das rotas em cenários críticos. Com diversos atores participando, a transparência do blockchain contribui para evitar perdas ou manipulações de informações. Muitas soluções de blockchain para logística já dispõem de APIs ou módulos de integração com ERPs e plataformas de gestão, simplificando a sincronização de dados de inventário, rotas e prazos de entrega.

O que muda para o consumidor final?

Ulisses Silva: Há mais transparência sobre a origem e o percurso do produto. Imagine escanear um código com o celular e saber exatamente de qual fazenda veio um alimento, ou quando e onde foi embalado. Isso gera confiança e cria um diferencial em termos de qualidade e segurança. Além disso, a tecnologia pode reduzir custos ao longo da cadeia de suprimentos, refletindo em preços mais competitivos para o consumidor.

Para encerrar, quais são os desafios para a utilização do blockchain em grande escala?

Ulisses Silva: Primeiro, a educação e o entendimento correto do que essa tecnologia pode ou não resolver. Muitas vezes há exagero de expectativas. Também é importante garantir a integração com sistemas já existentes, já que poucas empresas podem se dar ao luxo de trocar seus softwares de uma hora para outra. O desenvolvimento de padrões comuns para a logística ainda está em evolução, o que pode limitar a colaboração entre empresas com plataformas diferentes. Mesmo com esses desafios, o fato de as empresas ao redor do mundo investirem cada vez mais em soluções de rastreabilidade, contratos inteligentes e auditoria distribuída mostra que o blockchain tem um potencial real de transformar não só o fluxo de mercadorias, mas a confiabilidade e a segurança na troca de informações.

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