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Desde a pandemia de coronavírus, a cultura de doação está ganhando cada vez mais relevância no Brasil. Em 2020, 66% dos brasileiros afirmaram ter feito algum tipo de doação, e 37% disseram ter doado dinheiro para alguma causa específica. Dois anos depois, o número de doadores aumentou: 84% realizaram doações e quase metade, 48%, fizeram doação em dinheiro.
Os dados são da pesquisa Doação Brasil, realizada pelo Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS), e revelam também como o impacto da pandemia pode resultar em uma mudança cultural: 38% dos doadores dizem que a experiência os levou a doar mais para ONGs.
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A cofundadora e diretora-geral do ELAS+ Doar para Transformar, Amalia Fischer, acredita que esse contexto favorece um debate mais profundo sobre filantropia. “Existe uma diferença entre quem pratica a caridade e quem faz filantropia. A caridade, geralmente, busca uma solução emergencial para situações de sofrimento. Já o objetivo da filantropia é resolver os problemas que geram o sofrimento. O desafio é mostrar que o trabalho da filantropia é permanente. Não é moda. Somos agentes importantes na construção de uma sociedade mais justa, no fortalecimento da democracia e na luta contra todo tipo de discriminação”, destacou Amalia.
Setembro é o mês escolhido para fortalecer esse movimento dedicado a visibilizar e fomentar a filantropia comunitária e de justiça socioambiental. O Mês da Filantropia nasceu como uma iniciativa para demonstrar a contribuição dessa prática para a transformação social e para garantia de acesso a direitos.
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Filantropia Feminista
No Brasil, as primeiras instituições de justiça social surgem com as irmandades negras. Criadas originalmente na Europa, elas se expandiram para as colônias portuguesas entre os séculos XVII e XVIII e eram espaços de resistência da população negra à escravização. As irmandades trabalhavam com a perspectiva da equidade de gênero e atuavam custeando despesas como funerais e compra de cartas de alforria.
Com o passar dos anos e as mudanças sociais, o conceito de filantropia, inicialmente atrelado a preceitos religiosos como caridade, benevolência e piedade, foi sendo transformado pelos movimentos feministas. O que antes era entendido como “amor ao homem”, passou a ser interpretado como “amor à humanidade”.
Esse novo entendimento ganhou ainda mais força a partir da 2ª Conferência Mundial de Direitos Humanos, realizada em Viena em 1993, quando foi declarado que os direitos das mulheres são parte integrante e indivisível dos direitos humanos universais. Amalia Fischer lembra que as mulheres sempre estiveram à frente das iniciativas de filantropia. “A multiplicidade de mulheres no mundo sempre esteve presente em todas essas formas de apoios, sejam materiais, imateriais, individuais ou coletivos. Atuaram para liberar pessoas da escravidão, para ter políticas públicas, leis de proteção de direitos básicos e mudança social. As mulheres é que estão sempre cuidando, procurando melhoria, engajadas nas mais diversas formas de filantropia”, lembrou a diretora-geral do ELAS+.
Ativismo de mulheres
Amalia explica que para fortalecer a filantropia feminista é preciso que cada vez mais mulheres ocupem espaços de direção e de tomada de decisão, especialmente nas organizações e fundos filantrópicos. “É um movimento necessário para trazer mais recursos flexíveis para as organizações de mulheres, mostrar que através de um grantmaking baseado na confiança nas organizações, a mudança social acontece de uma forma mais profunda. São as mulheres que sabem as necessidades e conhecem as soluções de seus territórios”.
Para celebrar o Mês da Filantropia e demonstrar em dados como o ativismo de mulheres está impactando o ecossistema filantrópico, será lançada em setembro, como uma das atividades da Rede Comuá, a pesquisa Por uma Filantropia Feminista: Um Olhar sobre os Ativismos de Mulheres no Brasil. A divulgação do levantamento, coordenado pelo ELAS+, pretende colocar luz sobre como as organizações da sociedade civil lideradas por mulheres estão transformando seu entorno e suas vidas para exercer cidadania plena.
O debate online acontece no dia 29 de setembro, as inscrições são gratuitas e já estão disponíveis.