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Segundo a curadora Maria Luiza Meneses, a série “Pagã”, que dá nome à exposição, recupera a palavra latina utilizada para nomear quem possuía práticas espirituais diferentes das tradicionais, com forte presença de cultos à natureza. Ao mostrar similaridades e repetições simbólicas entre religiões, Kelly convida o público a refletir sobre intolerância e liberdade religiosa, o apagamento de conhecimentos de origem africana, afro-brasileira e indígenas, com enfoque no Brasil e demais países da América Latina, passando por saberes orientais japoneses.
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A exposição nasceu de uma pesquisa da artista sobre as dinâmicas de mestiçagem tanto biológica como cultural. (Eduardo França Paiva no livro Religiões, Religiosidades, Escravidão Mestiçagens).
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Pagã é a pessoa que tem como ídolo seres relacionados à natureza ou que possuem uma espiritualidade fora do convencional. Na era colonial havia a imposição de ser católico e as outras pessoas eram pagãs. A palavra pagã foi sempre vista de forma negativa, mas é apenas uma forma de mistura. Mesmo os colonizadores se apropriaram de alguns saberes, sejam indígenas ou africanos, e os agregaram ao catolicismo.
”Eu sou mineira, de família simples e católica, parte evangélica. A minha família sempre foi católica, mas ao mesmo tempo, buscava a cura com benzedeiras. Toda essa vivência familiar e toda minha experiência pessoal me fez pensar sobre esse hibridismo religioso”, complementa a artista.
As mulheres foram as mais violentadas no processo de supressão da religiosidade delas. E foram mortas, algumas obrigadas a dizer que eram feiticeiras ou foram obrigadas a dizer que tinham envolvimento com o demônio. Muitas foram mortas por terem saberes relacionados a plantas e ervas medicinais. ”Quero trazer outro significado para a palavra pagã. A exposição fala da mulher indígena e negra, que é integrada à natureza, e que consegue perceber que as religiões estão integradas. É possível conviver com todas essas diferenças sem ter que suprimir alguma”, destaca Reis.
“Eu sempre representei nos meus grafites mulheres indígenas, mestiças e negras. Com a obra ‘Mestiça’ (2022), apresentada na 5ª Bienal Internacional de Graffiti & Fine Art, eu comecei a pesquisar mais a fundo essa dinâmica de mestiçagem”, afirma Kelly.
A exposição apresenta 40 obras, integrando pinturas em tela, com tinta acrílica e spray, alguns murais e pequenas esculturas criadas a partir de latas de spray. A exposição é patrocinada pela Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo. Entrada gratuita.
Por meio de grafites, pinturas e desenhos, a artista Kelly Reis investiga como os processos de colonização e miscigenação promoveram integrações religiosas e culturais que resultam em práticas que cruzam os limites de uma ou outra religião.
“Pular sete ondas no mar, pedir bênção, dar ou receber passe para equilíbrio energético, são algumas ações praticadas por pessoas de diversas religiões. Nesse sentido, mesmo com suas origens rastreáveis, muitas práticas são adotadas por grupos distintos”, segundo a curadora Maria Luiza de Meneses.
O grafite de Kelly Reis é denominado “onírico” porque se relaciona com o surrealismo latino-americano, uma vez que as imagens criadas pela artista são advindas de sonhos, processos meditativos e práticas espiritualistas. Utiliza símbolos que possuem significados diferentes em cada religião para mostrar a importância de conhecer e respeitar as diversas práticas espirituais e culturais. (Meneses)
Sobre a artista Kelly Reis
Artista plástica, arte educadora, atua no graffiti há dez anos. Graduada em educação artística pela FAAC-UNESP e pós-graduada em arteterapia e terapias expressivas pelo IA-UNESP, é estudante do curso de psicologia analítica com ênfase em mitologia, contos e arte pelo Instituto Freedom.
Participa de eventos e festivais utilizando a técnica do graffiti e arte mural dentro e fora do Brasil e criou grande empenas em espaços e projetos como o CEU Vila Atlântida no projeto Estamos Vivxs.
Serviço
Exposição “Pagã”
Local: Tendal da Lapa
Endereço: Rua Guaicurus, 1100 – Água Branca, São Paulo – SP
Data: de 16 de março a 30 de abril
Horário de funcionamento:
Abertura da exposição (16/03): das 18h às 21h
Terça-feira, quinta e sexta: das 09h às 18h
Quarta feira: das 09h às 20h
Sábado: das 09h às 15h
Classificação: livre
Entrada gratuita.
Patrocínio da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo